O “assassino silêncioso”. É assim que se costuma chamar ao cancro do pâncreas, que afeta um órgão interno, escondido na cavidade abdominal. Normalmente, a doença só é descoberta quando já está num estado muito avançado e pouco há a fazer. Ao fim de cinco anos do diagnóstico, só 5% das pessoas está ainda viva.
Além da dificuldade em diagnosticar precocemente, também há o problema da ineficácia dos tratamentos. O tumor rodeia-se de uma massa de tecido, constituído por vasos sanguíneos e células imunitárias, que forma uma espécie de armadura, impedindo a quimioterapia de penetrar.
Daí que uma das estratégias para atacar a doença seja a destruição desta camada de proteção, ou estroma, da qual o tumor depende para sobreviver e espalhar-se. Foi esta a ideia que esteve na base do ensaio feito em ratinhos, com cancro do pâncreas, em que foi testado um medicamento usado já desde 1995 no tratamento de AVCs. O fasudil, prescrito apenas na Ásia, aumentou em 47% o tempo de vida dos ratinhos. “Se este benefício fosse traduzido para os humanos, significaria um aumento de sobrevivência de 9 para 13 meses. Pode não parecer muito, mas com um patamar de sucesso para o tratamento do cancro do pâncreas tão baixo, qualquer melhoria é fantástica”, sublinha à revista New Scientist Paul Timpson, um dos responsáveis pelo trabalho, no Instituto Garvan de Pesquisa Médica, em Sydney, Austrália.
Com recurso à microscopia, a equipa percebeu que o fasudil atua de duas formas: enfraquecendo o tumor e tornando os vasos sanguíneos mais permeáveis à quimioterapia. Outra boa notícia, é o facto de este já ser um medicamento antigo, que perdeu a patente, logo muito barato.
Depois dos resultados animadores dos testes em animais, planeia-se agora um ensaio com doentes, sendo que o fasudil será combinado com os tratamentos convencionais de quimioterapia.
Espera-se ainda que este medicamento possa ter efeitos positivos em outros tipos de cancro em que o estroma também tem um papel importante na progressão da doença.