Quem, a partir de hoje, for ao cinema ver o filme de ação, aventura e alguma ficção científica, Power Rangers, verá a primeira protagonista LGBTQ (Lésbico, Gay, Bissexual, Transgénero, Queer) num filme de super-heróis. A ranger amarela, Trini, interpretada pela atriz Becky G, é uma heroína lésbica. Mas o filme não se fica por abordar apenas questões de sexualidade e género.
Também o ranger azul, Billy, papel do ator RJ Cyler, tem uma particularidade: é autista. “Estas pessoas sentem da mesma maneira, tem os mesmos sentimentos, querem ser amados, querem alguém para amar, querem relacionamentos, querem ter ligações, e eu estava muito empolgado para interpretar o personagem pois sei que isso vai significar muito para muitas pessoas, pois todos nós somos afetados por isso… e é algo que, honestamente, sinto que precisávamos ter nesse filme”, disse Cyler, em entrevista ao Screen Rant, sobre como foi representar as pessoas com autismo.
Já no passado domingo, na emissão do conhecido programa da CBS News 60 Minutos, a guionista da série da BBC Rua Sésamo, Christine Ferraro, anunciava a aparição da nova personagem Julia e na grande dúvida que teve em “como falar de autismo”? “É complicado, porque o autismo não se manifesta apenas de uma maneira, é diferente para cada pessoa”, explicou Ferraro. Passados 50 anos desde a primeira emissão de Rua Sésamo, um dos programas mais populares de todo o mundo apostou na inovação, mostrando às crianças quão “normal” uma criança com autismo pode ser. Amiga do Monstro das Bolachas e de Óscar, a menina de cabelo ruivo ao ser apresentada a Poupas não reage e parece ignorá-lo, o que o leva a pensar que Julia não gostou dele. São os outros personagens que o tranquilizam e lhe explicam que Julia faz as coisas à sua maneira, de forma um bocadinho diferente. Pormenores como os braços capazes de se agitar descontroladamente quando a personagem está especialmente feliz também não foram esquecidos. Este boneco já tinha aparecido, pela primeira vez em outubro de 2015, numa história online.
Em 2004, uma notícia da BBC sobre o que “a síndrome de Asperger fez por nós” chamava a atenção para personagens de ficção, tanto de carne e osso como animadas, cuja principal característica é esta perturbação do espetro do autismo. Na ficção americana Os Simpsons, a personagem de Lisa Simpson, apesar de ser inteligente e boa aluna, tem graves dificuldades de relacionamento social.
E recuemos no tempo, até 1999, dois anos depois da estreia de Teletubbies quando o reverendo Jerry Falwell, representante dos cristãos conservadores americanos, entretanto falecido, dizia que o peluche roxo Tinky Winky era homossexual devido à sua cor, associada a movimentos gay. Na altura, também o escritor americano Bret Easton Ellis classificava os protagonistas da série britânica “maléficos”. “As táticas de Marilyn Manson para chocar parecem insignificantes se comparadas com estes ursos de peluche psicadélicos”, defendia. Alguns anos mais tarde, em 2007, a mesma personagem era alvo de uma investigação por parte do governo conservador da Polónia, para se saber se a personagem Tinky Winky promovia ou não a homossexualidade. Em causa estaria a mala de mão vermelha que o peluche roxo usava. “Reparei que a personagem usa uma mala de mão para senhoras, mas não percebi que se tratava de um rapaz”, disse na altura Ewa Sowinska, responsável por um organismo governamental polaco de defesa dos direitos das crianças, à revista semanal Wprost.