Chama-se HVTN 702 e, se o ensaio clínico for bem sucedido, este tratamento pode significar o fim do vírus da SIDA.
Tem inicio marcado para a próxima quarta-feira, dia 30 de Novembro na África do Sul, onde todos os dias se registam casos de infeção de mais de 1000 pessoas e tem, no total, mais de 6.8 milhões de pessoas infetadas.
Vai ser o ensaio clínico mais vasto e avançado da África do Sul e contará com a participação de mais de 5400 pessoas aleatoriamente selecionadas, do sexo feminino e masculino, sexualmente ativas e residentes em 15 zonas distintas da África do Sul, com idades compreendidas entre os 18 e os35 anos de idade.
Para Anthony Fauci, diretor do U.S National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIAID) – Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infeciosas dos Estados Unidos – “Se esta terapêutica for desenvolvida em paralelo com o nosso arsenal de ferramentas de prevenção do HIV pode significar o fim da doença”, segundo as declarações que deu aquando do anúncio do ensaio.
Ricardo Fernandes, diretor executivo do GAT – Grupo de Ativistas em Tratamentos, uma ONG que trabalha na defesa das pessoas afetadas pelo VIH e SIDA, partilha a mesma opinião. “Sabemos hoje que se evitarmos que as pessoas se infetem e que as que estão infetadas transmitam o vírus poderemos diminuir substancialmente o número de casos a nível mundial e passar a ter a um nível tão baixo que deixará de ser uma epidemia”, diz embora ache pouco provável que, pelo menos para já, se verifique a erradicação total do vírus.
Neste momento, e segundo as declarações de Ricardo Fernandes, “uma pessoa com VIH que esteja sob terapêutica dificilmente transmitirá o vírus”. O que falta, diz, “é encontrar uma vacina que seja suficientemente eficaz, pelo menos 60%, para que tenha um impacto de escala e permita reduzir o nível de infeção”. E este é precisamente o valor de sucesso que os cientistas responsáveis pelo ensaio esperam atingir.
A vacina que agora vai ser testada baseia-se num ensaio clinico aplicado em 2009 e, durante os três anos e cinco meses em que os doentes foram acompanhados, verificou-se uma taxa de sucesso de 31.2% a prevenir de forma eficiente a infeção por HIV.
“Cremos que os cientistas aprenderam muito com o ensaio clínico de 2009 e todo esse conhecimento foi aplicado neste novo ensaio na África do Sul. Existem avanços científicos e novas tecnologias que se desenvolveram entretanto que poderão ditar o sucesso desta nova vacina. Mas mesmo que fique aquém, será certamente mais um passo para o desenvolvimento daquela que poderá ser a vacina preventiva do VIH do futuro” diz Ricardo Fernandes.
O tratamento consiste em 5 injeções da vacina durante um ano e uma monitorização dos voluntários do ensaio durante 2 anos. A vacina vai ser adaptada ao subtipo de HIV mais comum na áfrica do Sul e, a ter sucesso, pode alterar substancialmente o curso da doença. Os resultados do estudo são esperados para 2020.
Neste momento, além da ferramenta clássica de prevenção, o preservativo, Ricardo Fernandes garante que se está a trabalhar a fundo numa novidade, “a profilaxia pré-exposição (PrEP), que permite evitar novas infeções a taxas muito próximas dos 100%. Se usada de forma correta poderá, juntamente com as estratégias anteriores ter um contributo fulcral para o controlo desta pandemia.”
Apesar dos valores elevados da infeção na África do Sul e outros países africanos, a esperança de vida subiu dos 57 para os 62 anos entre 2009 e 2014.