A palavra dita corretamente em dinamarquês soa a huga. Traduz-se rapidamente para “aconchego”, mas, dizem os dinamarqueses – e quem ensina o conceito, porque, sim, até há professores de hygge –, significa muito mais do que isso. O conceito, bem aplicado, é toda uma filosofia de “boa vida” e garantirá a felicidade aos seus seguidores, defendem os autores dos seis livros – seis, leu bem – publicados sobre o assunto só este ano.
Apetece gritar “Também queremos!”, ou, mais discretamente, perguntar o que é isso de o aconchego ser suficiente para garantir a felicidade – e, ainda por cima, num inverno escuro e frio. A resposta, conclui-se ao ler alguns dos muitos artigos que têm sido publicados nesta rentrée editorial, está nos exemplos dados para dar corpo à palavra. Ou dar sentido ao conceito, se preferirmos uma linguagem de life coach.
Os exemplos de hygge são prazeres muito simples, tinha de ser, como beber um café quente à frente de uma lareira. “Podem ser famílias e amigos reunidos para comer, com a sala de jantar à média luz, ou o tempo que passamos só a ler um bom livro”, disse a professora de hygge Susanne Nilsson, à BBC Mundo. “E funciona melhor quando não há um espaço vazio demasiado grande à volta da pessoa ou das pessoas.”
Helen Russell, no seu livro The Year of Living Danishly: Uncovering the Secrets of the World’s Happiest Country (O ano em que vivemos à dinamarquesa: Descobrindo os segredos do país mais feliz do mundo), lembra que os dinamarqueses não são muito dados a privações forçadas. “Tenta-se ser amável connosco próprios e com os outros.”
O conceito, na verdade, é tão abstrato que os estrangeiros sentem dificuldade em compreendê-lo. Mas se acrescentarmos que o adjetivo de hygge é hyggeligt, um cumprimento que se dá ao anfitrião depois de se ter passado uma noite agradável em sua casa, tudo fica mais claro.
“Não se pode comprar hygge como um pacote que se pode instalar; uma pessoa tem de investir tempo”, defende Jeppe Trolle Linnet, autor do primeiro artigo académico sobre este conceito. Investir tempo e, já agora, viajar até à Dinamarca durante o inverno e perceber in loco por que o país lidera, uma vez mais, o ranking do World Happiness Report 2016 Update.