Esta semana, Lisboa foi invadida por mais de quatrocentas pessoas que vivem, literalmente, no mundo da Lua. Astrofísicos, engenheiros aeroespacias, físicos, todos concentrados no Centro Cultural de Belém, onde decorre a reunião anual do projeto Euclid – um satélite com nome de matemático, que será lançado para o espaço em 2020.
A missão, iniciativa da Agência Espacial Europeia (ESA, da sigla em inglês), tem o ambicioso objetivo de detetar sinais e pistas da matéria escura – um tipo de matéria que não emite nem absorve radiação, mas que tem gravidade, influenciando a velocidade de rotação das galáxias. “A matéria escura age através da gravidade, mas é invisível”, explica António da Silva, investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), coordenador da participação portuguesa no projeto que envolve 14 países europeus, entre os quais Portugal, e os Estados Unidos.
Tudo aquilo que nós vemos e que é feito de átomos – estrelas, planetas, terra, água, nós própios – representa apenas uma pequena parte do Universo, menos de cinco por cento de tudo o que existe. Enquanto uma parte considerável é constituída pela tal matéria escura, que não se vê, mas que pode ser inferida pelo seu efeito.
Portugueses são olhos do satélite
Outro dos enigmas da cosmologia é a expansão acelerada do Universo. Desde o final dos anos noventa do século passado que os cientistas sabem que todos os objetos se estão a afastar uns dos outros, a uma velocidade cada vez maior. Não se sabe como nem porquê. Mas a energia escura é a melhor aposta – uma força que se opõe à atração gravitacional e corresponderá a 73% de tudo o que compõe o Universo.
Os cientistas esperam agora que o satélite Euclid, que será lançado a partir da Guiana Francesa, em 2020, venha trazer alguma luz a este assunto. Olhando para dois mil milhões de galáxias, durante seis anos, e gerando uma enorme quantidade de dados. Através da análise do movimento das galáxias, os astrofísicos, cosmólogos, físicos, tentarão encontrar pistas que permitam perceber afinal de que matéria é feito o mundo para além do nosso.
Quem vai decidir para onde deve olhar o satélite será a equipa de investigadores portugueses. “Não é indiferente a sequência pela qual fazemos as fotos. Temos de otimizar a observação de forma a conseguirmos os melhores resultados para a Ciência”, sublinha António da Silva.
As imagens serão feitas em dois comprimentos de onda: a luz visível, ou seja, no domínio do ótico; e o infravermelho, que oferece outra visão dos objetos, complementando a informação.
No projeto participam também algumas empresas portuguesas, sub-contratadas pela ESA.