O Transtorno por Deficiência de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico que surge na infância do indivíduo e pode acompanhá-lo toda a vida. Caracteriza-se por faltas de atenção, inquietação e impulsividade. Dois novos estudos, um realizado no Reino Unido e outro no Brasil, publicados esta semana no periódico online JAMA Psychiatry, quebram a ideia de que a doença começa em criança ao sugerirem que também pode surgir já na idade adulta.
Investigadores no King’s College London, no Reino Unido, analisaram 2200 gémeos durante os seus 5, 7, 10 e 12 anos, e outra vez aos 18 anos. Durante a infância, os gémeos foram estudados através de depoimentos dos seus pais e professores acerca do seu comportamento; quando completaram 18 anos o método de estudo mudou e passaram a ser entrevistados.
Dos gémeos diagnosticados com TDAH, 70% não tiveram sintomas da doença até chegarem à idade adulta e 55% são mulheres, o que contrasta com o transtorno infantil, que afeta maioritariamente crianças do sexo masculino. No entanto, a pediatra Patricia Quinn afirma que para as crianças do sexo feminino o seu “comprometimento funcional” não se manifesta até à idade adulta, altura em que é diagnosticada. “Isso não significa que os sintomas não estavam presentes anteriormente”, comenta Quinn.
No Brasil, outro estudo concluiu resultados semelhantes. A equipa de investigadores, liderada por Albert Caye, analisou 5249 indivíduos nascidos em 1993. O estado do seu transtorno foi estudado aos 11 anos e novamente aos 18 ou 19. Cerca de 12% dos jovens com 18 e 19 anos foram diagnosticados com a doença, mas apenas um décimo deles também sofreu da mesma aos 11 anos. “Os nossos dados não suportam a ideia que o TDAH é apenas a continuação de uma doença infantil,” disse Caye, estudante de um doutoramento no Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Os investigadores acreditam que o início tardio do transtorno se deve tratar de uma desordem única, uma vez que os vários jovens adultos diagnosticados com TDAH não o teve na infância. Além disso, a falta de atenção, hiperativade e comportamentos impulsivos eram mais severos do que em crianças, e tendiam a ser acompanhados por traumas como acidentes de viação, encarceração, comportamentos criminais e dependência de álcool e marijuana.
“A nossa pesquisa lança novas luzes no desenvolvimento e no começo do TDAH, mas também inicia muitas questões acerca do TDAH que surge depois da infância”, disse Louise Arseneault, coautora do estudo realizado no Reino Unido. “Quão semelhante ou diferente é o TDAH com início tardio comparado com o TDAH que surge na infância? Como e porque é que o TDAH em idade adulta surge? Que tratamentos são mais eficientes para doentes com TDAH com início tardio? Estas são as questões para as quais nós devemos a começar a procurar resposta”, sublinha.
Os estudos concluem também que 4% dos adultos sofrem de Transtorno por Deficiência de Atenção e Hiperativade.