Desistem a meio do percurso, dando prioridade à vida familiar, ou são preteridas nos concursos pelos membros masculinos dos juris. Esta é a explicação da presidente da Associação Portuguesa de Mulheres Cientistas (Amonet), Maria João Bebianno, para o facto de 62% dos doutorados em Portugal serem mulheres, mas muito poucas chegarem a cargos de topo. “Só tivemos, até hoje, três reitoras e há também muito poucas mulheres catedráticas – apesar de haver mais mulheres como professoras auxiliares”, relata a professora da Universidade do Algarve. A média europeia de mulheres entre os doutorados é 45 por cento. E nem a Noruega, ou a Finlândia, países tradicionalmente muito igualitários nas questões de género, ultrapassam a taxa de Portugal.
O Dia da Mulher é assim o dia perfeito para a apresentação do projeto Mulheres na Ciência, organizado pelo Programa Ciência Viva. No livro e módulo expositivo que se inaugura a 8 de março no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, estarão 103 retratos de cientistas portuguesas, feitas por António Pedro Ferreira, Clara Azevedo, Daniel Rocha, José Carlos Nascimento e Luísa Ferreira.
Para a presidente do Ciência Viva, Rosalia Vargas, “foi longo o caminho percorrido por estas mulheres, que inspiram quem deseja dedicar a sua vida ao conhecimento, ao desenvolvimento e à inovação. Portugal, em termos da distribuição por género do pessoal investigador na população activa, revela uma presença feminina acima da média da União Europeia e os números relativos à frequência universitária em todos os graus de ensino, onde as mulheres são maioritárias, sugerem que esse indicador se irá reforçar. Em Portugal, 45% dos investigadores são mulheres enquanto a média mundial é de 28% e a proporção do Reino Unido, por exemplo, é de 38% e a da Alemanha de 27%.
São inúmeras as razões para premiar as mulheres que fazem ciência, olhá-las nestes retratos e ouvir as histórias de descoberta e de sucesso que nos contam. É por isso com grande alegria que hoje, dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, estendemos a passadeira vermelha às mulheres da ciência.”
Nas fotos a preto e branco, acompanhadas do percurso de cada uma das mulheres, é evidente a diversidade geográfica e profissional das cientistas portuguesas.