As imagens recolhidas no Aeroporto de Figo Maduro por um repórter da SIC já estão pouco nítidas mas dá para perceber que são quase todas de mulheres e crianças, de mães e filhos que esboçam sorrisos ao chegarem a um país em paz. Entre eles estava Sabina Karamehmedovic, a sua irmã, Dragana, e a mãe de ambas, Vesna.
O pai, Fuad ficara para trás, na Croácia, onde a família se refugiara inicialmente, em casa de familiares, e por lá ficaria mais quatro meses. Aos 12 anos, quatro meses é muito tempo, diz hoje Sabina. “Só fiquei contente quando ele se juntou a nós.”
Quando Fuad aterrou por sua vez em Portugal já a mulher e as filhas estavam bem instaladas numa casa, a do casal Macedo, que as acolhera em Soure. Géna e o marido tinham ouvido falar da missão “Crescer em Esperança”, que haveria de trazer um total de 500 vítimas da guerra na Bósnia (ex-Jugoslávia) e enviar para a Croácia 75 mil toneladas de alimentos. Ofereceram logo os seus préstimos à Cruz Vermelha, mas acabariam por saber da história de Sabina, Dragana e Vesna através de um jornal.
Tudo isto foi recordado no programa Perdidos e Achados, da SIC, em 2008, e agora novamente, desta vez no espaço atmosfera m, do Montepio Geral, em Lisboa, onde Sabina, hoje com 35 anos, mostrou fotografias da casa dos Karamehmedovic em Derventa, no norte da Bósnia-Herzegovina, antes e depois dos bombardeamentos.
A família voltou lá em 1999, numa viagem guiada pela saudade que não alterou a decisão de continuarem em Coimbra. Foi para Coimbra que se mudaram quando as duas manas entraram para a faculdade (uma em Arquitetura, outra em Enfermagem), foi em Coimbra que se casaram com portugueses. É em Coimbra que Sabina trabalha, num ateliê de Arquitetura onde tem a mãe, também arquiteta, como colega de estirador.
Não foi por acaso que Rui Marques, presidente do Instituto Padre António Vieira e o grande impulsionador da recém-criada Plataforma de Apoio aos Refugiados, pediu a Sabina que contasse a sua história, uma história que ela conta terminando com uma fotografia da família já luso-bósnia, “uma família feliz”. Em 1992, Rui Marques ajudou a organizar a missão “Crescer em Esperança”. Agora, à frente desta plataforma que reúne mais de trinta instituições empenhadas em ajudar o Estado português “naquela que é a maior crise humanitária desde a Segunda Guerra Mundial”, recua no tempo para lembrar: “Vale a pena acolher refugiados.”