Um estudo concluiu que as temperaturas mais baixas matam 20 vezes mais pessoas do que as temperaturas elevadas. A investigação foi publicada na revista científica britânica The Lancet. Antonio Gasparrini, autor do estudo, avança ainda que as temperaturas amenas causam mais mortes dos que as vagas de temperaturas extremas, ao contrário do que é habitualmente divulgado.
O estudo analisou as causas de mais de 74 milhões de mortes em 13 países uma vez que, segundo Gasparrini, nunca se analisaram populações expostas a diferentes tipos de clima. O professor da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres diz que é comum identificar as temperaturas extremas como responsáveis pela maioria das mortes causadas pelas condições climáticas. No entanto, este estudo concluiu que “a maioria destas mortes ocorre em dias moderadamente frios ou quentes, mas especialmente frios.” Isto porque, segundo o especialista, os dias com temperaturas amenas são mais frequentes, tendo, por isso, um maior impacto.
Austrália, Brasil, Canadá, China, Itália, Japão, Coreia do Sul, Espanha, Suécia, Taiwan, Tailândia, Reino Unido e Estados Unidos foram os países que foram alvo de análise entre 1985 e 2012. Foram analisados fatores como a temperatura média diária, as taxas de mortalidade, variáveis como a humidade e a contaminação do ar (para calcular a temperatura associada à menor taxa de mortalidade, a temperatura ‘óptima’), o total de mortes causadas por uma temperatura ‘não-óptima’ e o papel do calor e do frio nestes casos.
Mais de 7% das mortes estão relacionadas com temperaturas amenas, com números que vão desde os 3% no Brasil e na Suécia aos 11% na China, em Itália e no Japão. Entre destes números, o frio foi responsável por 7.29% das mortes, enquanto apenas 0.42% foram atribuídas ao calor. A surpresa pode ser maior quando se olha para o número de mortes relacionadas com temperaturas extremas, que corresponde a menos de 1%.
Perante estes resultados, Antonio Gasparrini defende que as políticas de saúde pública devem ser repensadas, uma vez que “a sua maioria está desenhada para as ondas de calor ou de frio, mas nenhuma tem em conta o risco associado aos dias de frio moderado.” No entanto, o investigador não deixa de salientar ao jornal espanhol ABC que a exposição a demasiado calor ou frio pode aumentar o risco de mortalidade por outras causas, como doenças cardiovasculares e respiratórias.