Fácil de aplicar, barato e ajuda a poupar milhões. A frase, adaptada, de um conhecido jogo de apostas poderia ser o teaser para o projeto de comercialização das etiquetas moleculares desenvolvidas por Newton Gomes e Francisco Coelho. Os dois biólogos do Laboratório de Estudos Moleculares e Ambientes Marinhos, da Universidade de Aveiro (UA), criaram um código de etiquetas de ADN ambiental que pode ser aplicado em todo o tipo de superfícies e inserido em qualquer produto para fazer prova da autenticidade do mesmo. O ADN Prove, como deverá ser batizado, permite precaver a falsificação de uma obra de arte ou de uma peça de roupa. A tecnologia já está patenteada e agora só precisam de alinhar mais alguns parceiros de negócio para avançar com a comercialização.
O desafio, lançado por Newton Gomes, investigador responsável pelo LEMAM, ao antigo aluno de Pós-Doutoramento, começou quase por brincadeira: “Virei-me para ele e falei: ‘Ó Francisco, você quer ficar milionário? Então vem desenvolver este projeto que eu já estou velho para trabalhar'”, conta, com um indisfarçável sotaque brasileiro, por entre gargalhadas. Mais a sério, Newton explica que começou por estudar o aumento de produtos contrafeitos e falsificados nas cadeias de distribuição e assustou-se. “Em 2015 estima-se que os prejuízos andem na ordem dos 1,7 mil milhões de dólares. Um número impressionante.” Francisco Coelho nem hesitou. “Mas não foi com a ideia de ficar milionário [risos].”
Milhões de combinações possíveis
Para criar os seus próprios códigos, o laboratório utiliza a paleta quase infinita de moléculas de ADN existente na natureza, misturando tantas quantas as necessárias para criar chaves cada vez mais complexas e impossíveis de decifrar. Newton socorre-se da imagem de um cofre, “em que a dificuldade em descobrir o código é tanto maior quanto mais combinações forem adicionadas”.
Recolhidas, sintetizadas e arquivadas numa biblioteca de dados, as moléculas permitem depois milhões de combinações. E a aplicação é imensurável. “Podemos marcar praticamente tudo o que é possível imaginar”, explica Francisco Coelho, que dá como exemplo um protótipo desenvolvido na tinta de uma impressora. A tinta está certificada e, com uma simples passagem de um cotonete, previamente embebido numa solução líquida, ao melhor estilo CSI, e enviado para laboratório, é possível comprovar que o documento é verdadeiro. ?O mesmo sucede com uma obra de arte, como um quadro, por exemplo, em que o código de ADN pode ser inserido até mesmo na assinatura do autor, uma vez que não é visível a olho nu – e nem mesmo ao microscópio. A única forma de o detetar é mesmo em laboratório, enviando a obra ou recorrendo à técnica do cotonete.
Com a tecnologia patenteada em nome da Universidade de Aveiro, e com vários parceiros já referenciados, os investigadores avançam agora para a criação da empresa que comercializará os códigos de ADN a nível internacional. Se tudo correr bem, já falta pouco para ficarem milionários.