A DETENÇÃO
GARAGEM DO CAMPUS DA JUSTIÇA, LISBOA, 23 DE NOVEMBRO, 22H20Seja qual for o desfecho da Operação Marquês, que levou à detenção de José Sócrates, esta será sempre uma imagem histórica. Pela primeira vez, em 40 anos de democracia, um ex-chefe de Governo (2005-2011) foi detido e interrogado durante 12 horas. Mais: ficou em prisão preventiva. Pior: indiciado pelos crimes de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada. Só o tempo dirá se o facto inédito contribuirá para um retorno à confiança nas instituições afinal, passou a ser mais difícil dizer que a Justiça portuguesa só castiga os pobres ou se, pelo contrário, deitará por terra a esperança de que o caso sirva de exemplo dissuasor da corrupção na classe política. Embora a detenção de um ex-governante na manga de um avião, ao regressar de Paris, tenha abalado a confiança dos portugueses na política, a verdade é que é também uma prova de fogo do sistema judicial.
MAIDAN, O CENTRO DO MUNDO
PRAÇA DA INDEPENDÊNCIA (MAIDAN), KIEV, UCRÂNIA, 19 DE FEVEREIROQuando o Presidente ucraniano Viktor Yanukovich foi deposto e fugiu para a Rússia, em fevereiro, os manifestantes que, durante meses, enfrentaram o gelado inverno de Kiev e os snipers do regime, julgaram que se tratava de um final feliz, em que se aproximavam do Ocidente e se afastavam da Rússia. Mas aquele momento foi apenas o princípio de um outro tipo de pesadelo, muito mais longo, global e mortífero a intervenção de Putine, anexando a Crimeia e apoiando os separatistas do Leste da Ucrânia, provocou uma guerra que já matou mais de 4 mil pessoas (incluindo as 298 do voo da Malaysian Airlines destruído por um míssil disparado de uma zona controlada pelos rebeldes). O novo imperialismo de Putine levou a União Europeia e os EUA a imporem uma série de sanções económicas à Rússia, que respondeu com incursões militares cada vez mais frequentes e próximas dos países da NATO (incluindo Portugal). O termo “Guerra Fria” regressou o que está em jogo, agora, é mais do que a Ucrânia. Mas continua a ser, sobretudo, a Ucrânia.
OS MÁRTIRES DE TALIÃO
FAIXA DE GAZA, 19 DE JULHODurou quase 50 dias. Em cada um deles, repetiam-se os rituais de medo, dor e morte. O normal em qualquer guerra. No entanto, boa parte dos quase 2 milhões de habitantes da estreita língua de areia junto do Mediterrâneo Oriental, que dá pelo nome de Faixa de Gaza, já testemunhou três conflitos militares com Israel. O deste ano foi apenas o culminar de mais uma crise entre o Governo de Telavive e o Hamas, o movimento islâmico que governa o território desde 2006. As estatísticas dizem quase tudo sobre o que aconteceu entre julho e agosto: 2 192 mortos do lado palestiniano (na sua maioria civis) e 72 do lado israelita (66 soldados e 6 civis). O mais grave é todos saberem que, mais cedo ou mais tarde, a história poderá repetir-se…
MUROS DE VERGONHA
MELILLA, ESPANHA, 22 DE OUTUBRO, 11HDe um lado, houve 2 milhões de euros, financiados em 80% por fundos da União Europeia, para construir campos de golfe. Do outro, ferem-se e matam-se centenas de pessoas simplesmente ao tentarem saltar a cerca. De um lado, está um enclave espanhol europeu em Marrocos, Melilla. Do outro, África, Marrocos. A foto do ativista da ONG PRODEIN, José Palazón, correu mundo e originou uma reação da Comissão Europeia, acusando Espanha da prática de maus-tratos e de violação da legislação comunitária. Enquanto os políticos trocam galhardetes, 2014 fica marcado pelo desespero de quem procura fora a sobrevivência que lhe é negada no seu país: 14 mil tentaram fazê-lo, através da fronteira de Melilla e 4 mil conseguiram-no. Dois terços chegam de países em guerra, como a Síria, a República Centro-Africana e o Mali. Não os detêm os dez metros de altura de arame farpado e as lâminas no cimo do muro. Mesmo que isso signifique morrer a tentar.
VÍTIMAS DE UMA GUERRA INTERMINÁVEL
YARMOUCK, ARREDORES DE DAMASCO, SÍRIA, 31 DE JANEIROMilhares de pessoas esperam, ordeiramente, pela oportunidade de receber alguns alimentos, distribuídos pelas Nações Unidas, depois de meses sitiados, devido aos brutais combates entre as forças governamentais sírias e os rebeldes que pretendem depor o regime do Presidente Bashar al-Assad. Em 1957, Yarmouk, nos arredores de Damasco, era um campo destinado a acolher palestinianos obrigados a abandonar Israel. Com o passar dos anos, foi-se transformando numa cidade. A quase totalidade dos seus 130 mil habitantes fugiu, no início do conflito sírio, mas 18 mil não tiveram essa sorte. Quando, a 31 de janeiro, a ONU conseguiu negociar um cessar-fogo temporário para distribuir alimentos, descobriu uma população desesperada. Mais de 60% apresentava severos sintomas de malnutrição e centenas de habitantes tinham morrido à fome. A guerra civil na Síria continua sem fim à vista e o número de vítimas não para de crescer: os deslocados internos ascendem a 7,6 milhões e o total de refugiados dos países limítrofes é já de 3,3 milhões.
PARADEIRO DESCONHECIDO
BUSCAS AO VOO MH370 DA MALAYSIA AIRLINES, OCEANO ÍNDICO SUL, 31 DE MARÇOContinua a ser, ainda, o grande mistério de 2014: o desaparecimento do voo MH370 da Malaysia Airlines, com 227 passageiros e 12 tripulantes a bordo, na madrugada de 8 de março, enquanto fazia a ligação entre Kuala Lumpur e Pequim. É raro, na história recente da aviação civil, haver tantas perguntas sem resposta, num caso como este (o que deu origem a muita especulação e teorias, nem sempre realistas). Vários meses depois do desaparecimento, prosseguem as buscas dos destroços do avião, num dos locais mais desconhecidos do planeta: o fundo do oceano Índico Sul, onde a profundidade pode chegar a mais de 7 mil metros. O pesadelo da Malaysia Airlines conheceria outro capítulo trágico em julho, quando o voo MH17 (com 298 pessoas a bordo) caiu no leste da Ucrânia depois de ser atingido por vários projéteis.