O Massachusetts Agression Reduction Centre (MARC) entrevistou 617 estudantes e descobriu que 9% deles tinha praticado “autobullying” anónimo. “Pouca gente imaginava que adolescentes pudessem tentar sair do anonimato desta forma”, diz a especialista em cultura jovem e tecnologia Danah Boyd, professora-assistente em media, cultura e comunicação da Universidade de Nova York e uma das primeiras a chamar atenção para o fenómeno.
Um dos exemplos do fenómeno é o de Ellie, nome fictício de uma adolescente que começou a praticar o “ciberbullying” contra si mesma quando tinha apenas 15 anos. Depois de a sua história ter sido descoberta entrou em contacto com a ONG britânica que lida com casos de autoflagelação, Self-Harm, e permitiu que o seu caso fosse relatado pela BBC.
A adolescente criou vários perfis fictícios online, usando-os para publicar mensagens abusivas nas suas páginas nas redes sociais. “As publicações diziam que eu era feia, inútil e que ninguém me amava, coisas que eu achava de mim mesma”, contou.
O problema tomou proporções maiores quando, para aumentar o realismo do bullying, Ellie começou a praticar bullying contra os amigos que a defendiam online. “Os meus amigos ficavam do meu lado e tentavam proteger-me, foi então que, para manter a farsa, acabei por publicar, também, mensagens abusivas contra eles”, disse.
Segundo a diretora da Self-Harm, Rachel Welch, o problema “apenas começa a surgir agora e é preocupante”. “O autobullying anónimo pode não deixar ferimentos visíveis, mas é necessário que seja reconhecido como um risco emocional real para jovens”, acrescenta Welch.
O estudo realizado pelo MARC constatou, também, que entre os entrevistados, as motivações para cometer os atos de autobullying online são semelhantes – chamar a atenção de adultos e outros jovens ou tentar despertar a simpatia de outras pessoas na internet, levando a que, indiretamente, os protejam contra os abusos.
Richard Graham, psicólogo especializado em adolescência da Fundação Tavistock and Portman em Londres, salienta o facto de existirem algumas semelhanças entre o autobullying e a automutilação física, apesar de também haver diferenças. “A automutilação é uma resposta física a uma dor emocional, distraindo a pessoa dessa mesma dor. Na autoflagelação online substitui-se a dor emocional por outra forma de dor emocional. E, este reforço emocional negativo é muito preocupante”, afirma o especialista.
Este tipo de bullying começou a ser alvo de preocupação depois do suicídio de uma adolescente de 14 anos, Hannah Smith, de Leicestershire. A adolescente era vítima de bullying cibernético no site Ask.fm e, o site em questão, alegou que várias das mensagens abusivas enviadas a Hannah eram enviadas por si mesma, de forma anónima, algo que a família da adolescente nega e já pediu para que o site forneça provas.
“A tecnologia espelha e aumenta tanto o que é bom, quanto o que é mau acerca da vida quotidiana, mas é muito mais fácil culpar a tecnologia do que examinar a fundo o problema. Infelizmente, até mesmo os especialistas preferem falar sobre o que a tecnologia faz com a juventude do que falar sobre o que ela expõe ou revela sobre a cultura jovem”, acrescenta a especialista Danah Boyd.