Marta Justiniano
NATURAL DE: Torres Vedras
IDADE: 35 anos
PROFISSÃO: Professora de português e inglês do 1.º e 2.º ciclos, trabalha agora no call center da MRW (companhia de transporte urgente)
VIVE EM ESPANHA HÁ: Um ano e meio
Regresso ao futuro
Marta Justiniano, 35 anos, e Ricardo Santos, 32, conheceram-se pela Internet há cerca de dois anos.
Ela ainda vivia em Portugal, ele já trabalhava em Madrid, como engenheiro informático, no Banco de Espanha. Casaram-se a 7 de julho deste ano “na capela do Seminário da Póvoa de Penafirme” (Torres Vedras), apenas uma semana depois de Marta ter sido despedida do call center da ADA (Ayuda del Automobilista), em Madrid, “com a desculpa de não ter passado, no período de experiência”. Viveu vários episódios similares, desde que foi para Espanha, em abril de 2011. Em Portugal, cansou-se do desemprego, do salário mínimo, de experiências laborais precárias, embora nunca tenha sido despedida. Em Madrid, não esteve mais de um mês sem trabalho e, em finais de agosto, encontrou novo emprego, agora “com melhores condições”, no call center de uma companhia de envios urgentes. Ainda assim, Marta e Ricardo planeiam voltar a Portugal no final do ano, “por causa da família e porque a nossa vida está toda lá”.
A meta é “andar para a frente”, porque “não podemos culpar a crise e enfiar-nos num buraquinho”, dizem.
Alexandre Pinheiro
NATURAL DE: Hamburgo (Alemanha) onde viveu até aos 9 anos, antes de vir para Portugal
IDADE: 42 anos
PROFISSÃO: Responsável pela gestão de risco de clientes da EMIEA (Europa, Médio Oriente & África), na SunPower, uma multinacional americana de energias renováveis.
VIVE EM ESPANHA HÁ: Um ano
Renascer com uma energia renovada
“Aconteceu tudo ao mesmo tempo.” No ano passado, depois de “uma crise familiar”, Alexandre decidiu aceitar o convite para trabalhar numa multinacional americana de energias renováveis e mudar-se de Lisboa para Madrid. “Resolvi renascer, pessoalmente e profissionalmente, e entendi que era a altura ideal para iniciar uma carreira internacional, continuando a estar perto dos meus filhos”, de 11 e 9 anos.
Vêm dois fins de semana por mês e nas férias, e “estão encantados com a cidade.” Em Espanha, “vive-se muito na rua”. Sente que “as pessoas estão preocupadas” e que, embora “continuem a fazer a sua vida normal”, em vez de “ir jantar fora vão tapear”.
Ainda assim, continua a haver “uma perspetiva positiva da realidade”, mas também “a sensação de que o Governo está um pouco desorientado, que não existe uma estratégia, que as medidas para enfrentar a crise são um pouco avulsas”.
Nos seus frequentes contactos com os Estados Unidos, os comentários sobre a situação na Europa são recorrentes: “Veem-nos como uma região deprimida e desorientada.” Alexandre teve que “racionalizar os gastos”, e passou as férias em Madrid, com os dois filhos.
É otimista em relação ao futuro de Espanha, admitindo que “provavelmente demorará três, quatro anos, mas tem uma pujança que lhe permitirá sair desta crise”.
Clara Martins
NATURAL DE: Porto
IDADE: 44 anos
PROFISSÃO: Especialista em recrutamento de recursos humanos, numa multinacional de telecomunicações
VIVE EM ESPANHA HÁ: Dois anos
Privilégios no reino da insegurança
Trabalhava há seis meses numa multinacional de telecomunicações (da qual não diz o nome), em Lisboa, quando, em setembro de 2010, surgiu a “oportunidade de continuar na mesma empresa, mas em Madrid”. Espanha sempre a tinha atraído “pela maneira mais informal e dinâmica de viver a vida” e, apesar de educar sozinha a filha de 7 anos (que hoje lhe corrige o sotaque castelhano), por estar separada, aceitou o desafio “porque tinha o objetivo de fazer uma carreira fora de Portugal”.
Hoje, está fora dos seus planos voltar, considera-se “privilegiada” por ser “uma estrangeira com trabalho, num país com mais de 25% de desempregados”, mas vive com apreensão a deriva da crise espanhola (que lhe recorda a portuguesa). Passou a “controlar mais os gastos”, porque “a insegurança paira no ar”, mas confia no futuro, e que “tem de se encontrar uma solução” para esta Europa, onde agora parece que “estamos sentados num barril de pólvora que pode explodir a qualquer momento”.
Rute Ferreira
NATURAL DE: Viseu
IDADE: 25 anos
PROFISSÃO: Assistente de marketing em estágio na Carestream Health Spain (empresa americana de radiologia), através do INOV Contacto
VIVE EM ESPANHA HÁ: Quatro meses em Madrid, após dois anos em Barcelona
Sem margem para dúvidas
Vinte e cinco anos. Dois mestrados, um em Gestão de Marketing (Barcelona) e outro em Comportamento de Consumo (Lisboa). Dois estágios, um no Brasil, outro em Portugal. Dois anos a trabalhar numa empresa portuguesa ligada ao vidro, com renovações de contratos semestrais, que se esgotaram. “Quando achei que ia sobrar para mim, comecei a enviar currículos” mas as propostas, em Portugal, “eram miseráveis”, diz.
“O suficiente para sobreviver, mas não para viver.” E decidiu inscrever-se no programa INOV Contacto, que apoia a formação de jovens, com qualificação superior, no estrangeiro. Conseguiu um estágio, o terceiro em seis meses, com uma retribuição de 1 300 euros, mas “sem perspetiva de vinculo à empresa”. Chegou a Madrid em finais de abril deste ano e “pensava ficar”, mas viu em Espanha “a mesma crise que em Portugal”, e já se está “a mexer”, porque não é otimista quanto ao futuro da Europa, só em relação ao seu… “Não posso duvidar”, afirma, decidida a apostar agora num território de língua portuguesa, como Macau, Angola, Brasil ou Moçambique.
Hélder Barata
NATURAL DE: Sabugal, distrito da Guarda
IDADE: 34 anos
PROFISSÃO: Engenheiro aeronáutico e funcionário público na Agência de Segurança Aérea do Ministério do Fomento
VIVE EM ESPANHA HÁ: Oito anos
Nas asas de uma crise ficcionada
Inspeciona “aviões estrangeiros” que aterram em Barajas, onde trabalha, e noutros aeroportos espalhados pela Europa e pelo mundo, de onde saem voos com destino a Espanha. Começou a carreira em Salamanca, “a 166 quilómetros de casa”, depois de concluir o mestrado na Covilhã. Reside em Madrid desde 2006.
Em 2009, ficou aprovado nos exames para entrar na Função Pública. Nesse ano, obteve a nacionalidade espanhola (sem perder a portuguesa), uma condição essencial para poder progredir na carreira, uma vez que a partir do seu escalão só poderá ascender “por nomeação direta, reservada a cidadãos espanhóis”.
Viu-se afetado pelos sucessivos cortes de rendimento, nos últimos anos, em Espanha: “Estou a ganhar menos 30% de salário, desde que começou a crise.” Uma crise fictícia, segundo diz. “Uma invenção de certas pessoas para ganhar mais dinheiro”, à “custa da classe média”, e sem consequências para os maus gestores. “Sou lutador, conheço as minhas capacidades, e não desisto facilmente”, por isso “se tiver de emigrar outra vez, procurar outro trabalho e ter um horário das oito da manhã à meia-noite, vou!”. Mas para “países mais transparentes, como a Suécia, Noruega, Dinamarca, ou até Suíça”.
Vânia Colaço
NATURAL DE: Marinha Grande
IDADE: 32 anos
PROFISSÃO: Designer, com mestrado em Gestão Comercial e Marketing. Fundadora da Avispa, empresa de design e marketing, vocacionada para a indústria farmacêutica.
VIVE EM ESPANHA HÁ: Cinco anos
No espevitar é que está o ganho
“O Estado Novo vendeu-nos o rótulo de povo de brandos costumes! É mentira. Portugal foi fundado à chapada! E agora ficamos a olhar para a televisão, a dizer que somos de brandos costumes?” Vânia estava empenhada em procurar soluções “Dentro ou fora do Euro!” E deixou–se contagiar pela energia espanhola. Deu o salto para Espanha, “depois de esgotar todos os estágios e apoios do Governo à contratação de pessoas”, em Portugal.
Viajou para Madrid “com currículos debaixo do braço” e, “no início, foi o deslumbre”, diz, sorrindo. “Cheguei a ir a cinco entrevistas numa semana!” Manifestavam interesse pelo currículo e pelo portfolio que apresentava, por falar inglês, e disseram-lhe: “Interessas-nos para entrar no mercado português.” Começou a trabalhar numa empresa da área da saúde (em marketing e design) com contrato indefinido até que, em agosto de 2011, uma iminente reestruturação de quadros a levou a lançar-se num negócio por conta própria, assegurando-se de que os antigos empregadores seriam o seu primeiro cliente.
A aposta tem corrido bem. Chamou à sua empresa Avispa, que, em castelhano, significa vespa, e também espevitado!
Carina Morais
NATURAL DE: Lisboa
IDADE: 33 anos
PROFISSÃO: Enfermeira no Hospital Universitário Madrid Sanchinarro
VIVE EM ESPANHA HÁ: Cinco anos
Sem medo do destino
Quando terminou a licenciatura, em julho de 2007, havia empregos em Portugal, mas Carina tinha vontade de correr mundo e, curiosamente, contactaram-na para trabalhar num hospital de Tenerife, nas Ilhas Canárias.
Pensou no sol, na praia, e disse para si mesma: “Vou experimentar!” Um ano após, através de uma amiga, recebeu uma proposta para ingressar no serviço de oncologia de um hospital privado, em Madrid, onde ainda trabalha. Partilha o apartamento com uma colega de trabalho e, até à data, continua “a fazer mais ou menos a mesma vida que antes”, embora “moderando os gastos, a pensar no futuro”, porque ainda não passámos pelo pior”.
Há dez anos, Carina pensava que “a política era a ferramenta que podia mudar as mentalidades e as sociedades”, mas, depois da última década em Portugal, passou a acreditar que “só nós podemos mudar a nossa mentalidade”. Talvez por isso não hesite em dizer que, se acrise espanhola seguir por “um caminho irreversível”, seguirá para um destino mais longínquo.
Cláudio Schulz
NATURAL DE: Caracas (Venezuela), veio para para Tomar com 10 anos
IDADE: 32 anos
PROFISSÃO: Informático, em 2010 abriu um take away de comida portuguesa, o Frangus, com a mulher, o irmão e a cunhada.
VIVE EM ESPANHA HÁ: Seis anos
Não há impossíveis
“Só não consegui a Sónia (a mulher) pela Internet. Tudo o resto, sim”, costuma dizer Cláudio, com a boa disposição que o caracteriza. Em Portugal, estava a acabar o curso de engenheiro de minas, “mas não lhe via futuro” e ouvia “muita gente a falar de SAP [software para gestão de empresas]”.
Através da rede, arranjou um curso de dois meses em Madrid, que lhe abriu as portas para um trabalho, depois para outro. Sempre com a ajuda da Internet, “numa altura em que havia muito emprego na informática”. Em janeiro de 2009, “no início da crise”, tornou-se freelancer, tendo como cliente a empresa onde trabalhara. O irmão e a cunhada, também informáticos, juntaram-se-lhe em Madrid. Tinham emprego, mas decidiram abrir um negócio, um “bichinho” que herdaram do pai. A comunidade portuguesa há muito que reclamava “um bom franguinho na brasa”. A palavra “impossível” serviu como detonador e em 2010 abriram a primeira das duas lojas Frangus na capital espanhola: comida portuguesa na brasa, económica, para levar para casa. Sónia Gregório, psicóloga e mulher de Cláudio, grávida de sete meses, mudou-se há apenas dois meses para Madrid, a fim de integrar este negócio familiar nascido de uma parceria com o Rei dos Frangos português, que “apostou neste projeto”.