As notícias a propósito das “parcas” reformas do Presidente da República foram um festim para quem faz da maledicência um desporto nacional. As orelhas de Cavaco Silva ainda devem estar vermelhas… Até no Facebook os insultos acabaram por ser tantos que Belém decidiu avisar: “Reservamos o direito de retirar desta página os comentários que, pelo seu conteúdo, possam configurar a prática de ilícitos ou a violação de regras e princípios fundamentais.”
“Censura!”, gritaram logo vários facebookianos. Os mesmos, provavelmente, que inundam os “fóruns” dos sites noticiosos com o seu fel, queixando-se, depois, quando o que escrevem é eliminado, por ser considerado ofensivo. Não reproduziremos comentários desses. Mas, para que se tenha a noção, os “desabafos” que se seguem permanecem online e representam o que é o discurso do dia a dia, byte a byte, de um site informativo: “Finalmente percebi como chegámos ao estado de merda em que estamos!”, escreve Monroe, no Expresso. “Ponham-no a pão e água, em Caxias… logo verá que o que recebe chega para isso… Monte de esterco!!!!!!!”, sugere MDP, no Diário de Notícias. Já o utilizador Biba ao Cag@do Silva desafia: “Demita se ladrão sem vergonha das me vómitos filhodeumapp+pppppp!”. Brankinho, no Expresso, remata: “PALHAÇO! BAZA DESTE PAÍS!”
Como se lê, a maioria publica não as suas opiniões fundamentadas sobre os temas em discussão mas um chorrilho de insultos, a coberto do anonimato, usando nomes fictícios. Ultrapassados os limites, são denunciados por outros leitores ou banidos pelo administrador da página. Mas isso não impede que voltem, uma e outra vez. Afinal, basta criarem um novo e-mail, com dados falsos.
Miguel Martins, editor multimédia do Expresso, jornal com uma média de 2 mil comentários diários, constata que, “por estarem atrás de um ecrã, as pessoas esquecem as regras da vida em sociedade e revelam a sua pior faceta”. A psicologia social designa este comportamento por “desindividuação”. Escondidos atrás de um nick falso, os leitores “batem” no protagonista de uma notícia como as turbas de cobardes batem num homem só, caído no chão. Fora do grupo, ou de cara destapada, nunca fariam o mesmo.
Leia o artigo completo da jornalista Patrícia Fonseca na Revista VISÃO desta semana