Análise comparativa dos dados deste ano com os dos anos anteriores, realizada por Elsa Caeiro, membro da Rede Portuguesa de Aerobiologia (www.rpaerobiologia.com) e investigadora do Laboratório de Polinologia da Universidade de Évora
1. Está a ocorrer uma sobreposição de curvas polínicas de espécies filogeneticamente diferentes (oliveira, gramíneas, parietária, sobreiro, tanchagens, quenopódio).
Os pólenes de algumas delas são importantes aeroalergenos, causas frequentes de doença alérgica (rinite e asma).
O das gramíneas é o mais importante – é a principal causa de alergia ao pólen, seguido pelo da oliveira (segunda causa de rinite e/ou de asma em Espanha e na região do Alentejo) e o da parietária; depois vem, então, a tanchagem (nome científico: Plantago sp.) e o quenopódio (nome científico: Chenopodium sp.).
São pólenes que, nesta altura do ano, atingem as suas concentrações mais elevadas na atmosfera (ou seja, os seus máximos, o pico polínico).
2. Outro facto importante relaciona-se com o pólen de oliveira, que está a atingir níveis jamais alcançados.
Isto é particularmente notório no Sul de Portugal, onde a espécie é cultivada de forma extensiva e intensiva (o Alentejo possui as maiores áreas de produção de olival do País).
E é um pólen que chegou a níveis muito elevados precocemente. Geralmente, em Évora, a sua concentração máxima (o seu pico polínico) atinge-se a partir de 17 de Maio, mas este ano, logo a 9 de Maio, atingiu-se uma concentração de 1 176 grãos, que é superior ao pico dos outros anos (ele ronda habituamente os 800 grãos de pólen por metro cúbico de ar).
Doentes com sensibilização à oliveira, uma vez expostos a estas tão elevadas concentrações, certamente desencadearam sintomatologia de alergia respiratória (espirros, pingo do nariz, comichão nos olhos, lacrimejo, pieira e até mesmo falta de ar).
Por outro lado, como existe uma reactividade cruzada entre o pólen de oliveira e o de gramíneas e de quenopódio, indivíduos com sensibilização às gramíneas poderão reagir a este pólen também. E como, nesta altura do ano, estes pólenes encontram-se todos nos seus máximos, estão criadas as condições para o desencadeamento de sintomatologia.
A oliveira, de acordo com alguns estudos, pode ser utilizada como um bio-indicador de alterações climáticas na região Mediterrânica. Possivelmente, o fenómeno deste ano pode ser uma consequência dessas alterações, pois, segundo alguns estudos, as alterações climáticas induzem algumas plantas a polinizar precocemente e durante um intervalo de tempo maior.
Isso parece-me estar a acontecer com a oliveira este ano, tal como já sucedeu também com o pólen de um outro aeroalergeno importante, o plátano, que, em Março, atingiu concentrações jamais atingidas e precocemente.
3. A precipitação ocorrida durante o Outono e o Inverno favoreceu o desenvolvimento das plantas e, particularmente, das árvores.
Como as condições meteorológicas na altura da sua polinização foram as ideais (temperaturas próximas dos 25 graus e ausência de precipitação, conjuntamente com dias de sol e vento), foram e são libertadas e emitidas para a atmosfera elevadas concentrações de pólen.
Houve uma grande aposta por parte das plantas na produção de grandes quantidades de pólen para a sua reprodução. São plantas polinizadas pelo vento e não por insectos e que, portanto, investem na produção de pólen e não na produção de flores com pétalas e sépalas. Este ano tiveram todas as condições para o êxito.