A pandemia de Covid-19 fez disparar o número de pessoas a votar antecipadamente, este domingo. Mas enquanto as câmaras de televisão captam as filas de quem quis colocar o voto nas urnas primeiro, os sete candidatos presidenciais continuam em ações de campanha, transmitidas logo no segmento televisivo a seguir. O constitucionalista José Bacelar Gouveia diz, à VISÃO, que “o ótimo é inimigo do bom” e que se trata um “momento excecional” por causa da crise sanitária que vivemos.
José Bacelar Gouveia admite, no entanto, que “a exceção tem os seus riscos e os seus problemas, como sendo a pessoa votar numa altura em que a campanha ainda não está completa e pode haver algum argumento de final de campanha que não seja tido em consideração. Ora, isso vai levar, no futuro, a que a campanha eleitoral não sirva para nada. Se não serve para nada temos um risco de desigualdade entre candidaturas. Se há uma campanha eleitoral, é para a levar a sério e é para que as pessoas possam ponderar sobre os argumentos que são veiculados. Não podemos começar a alargar demasiado o voto antecipado”.
Inscreveram-se para o voto antecipado em mobilidade 246 876 eleitores, quando nas legislativas de 2019 (primeiro ano em que esta modalidade de voto esteve disponível) utilizaram este sistema 50 638 das 56 287 pessoas que pediram para votar antes. Ao contrário do que aconteceu há dois anos, o Parlamento aprovou a possibilidade de votar este domingo na sede de cada um dos 308 concelhos do País, para evitar maiores aglomerados de pessoas.
José Palmeira, especialista em Ciência Política da Universidade do Minho, realça também a questão de os eleitores poderem não ter a informação toda no momento do voto, embora quanto ao dia de reflexão lembre “que este nem sequer existe em muitos países”.
“O que isto revela é que houve uma precipitação muito grande. O processo eleitoral não foi preparado com a devida ponderação, a devida antecedência, foi tudo feito muito em cima do joelho. É verdade que estas são umas eleições muito especificas – onde não há propriamente uma grande disputa para saber quem é o vencedor -, mas se isto fosse uma eleição legislativa ou autárquica, onde as previsões apontassem para resultados muito próximos, se calhar as coisas já não se passavam assim, em que ninguém discute nada”, defende o politólogo.
A maior parte dos portugueses irá às urnas no dia 24 de janeiro de máscara, preferencialmente com a sua própria caneta e terá de desinfetar as mãos antes de se deslocar à cabine de voto.