De um lado, a direita da pesada, ultracatólica, com resquícios extremistas da colheita do pós-revolução, adeptos das touradas e negacionistas do racismo e colonialismo. Entre os 12 deputados eleitos pelo Chega, há um ex-dirigente do braço político da organização armada MDLP (Diogo Pacheco de Amorim), um supranumerário do Opus Dei (Pedro Frazão), a jovem antifeminista e admiradora dos pós-fascistas italianos Fratelli d’Italia (Rita Matias), um intelectual que combate a “ideologia de género” e o “marxismo cultural” (Gabriel Mithá Ribeiro), um promotor da “festa brava” (Pedro Pinto) e um sobrinho-neto do lendário cónego Melo (Filipe Melo), sacerdote que abençoou, a partir da Igreja de Braga, a violência anticomunista no “Verão Quente” de 1975.
Do outro está uma das bancadas parlamentares mais jovens, espécie de seleção sub-30 liberal, sem vestígios passadistas. É liderada por gente pouco ou nada grisalha (Cotrim de Figueiredo, 60 anos, e Rodrigo Saraiva, 45, são os mais velhos), descomprometida e até sem memória dos tempos de brasa da democracia. “O nome do cónego Melo não me diz nada e nem sei bem quem são os deputados do Chega”, admite à VISÃO Bernardo Blanco, 26 anos, uma das caras novas da IL, ex-gestor de projetos em multinacionais e na banca e, entre 2019 e 2021, assessor de comunicação no gabinete do deputado e líder Cotrim de Figueiredo. “Considero relevante saber o contributo que o meu tio-avô deu para derrotar a esquerda totalitária e impor a direita no País, mas não me espanta nem choca que os deputados da IL desconheçam quem foi o cónego Melo”, assume Filipe Melo à VISÃO. O deputado e líder da distrital de Braga até vê afinidades com a IL em matéria económica. Contudo, adverte: “Separam-nos as políticas sociais e o facto de eles não se considerarem de esquerda nem de direita.”