Embalado pelo testemunho do histórico socialista Manuel Alegre, que abriu o comício desta quinta-feira no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa, lembrando outros tempos em que o caminho da democracia se decidiu entre PS e PSD, António Costa foi um pouco mais longe do que nos últimos dias – em que começou a acenar com o risco de um futuro governo ficar dependente de um apoio do Chega: reconheceu que há, neste momento, um “empate” nas intenções de voto, entre ele e Rui Rio. E, quase como se estas legislativas se tratassem de umas Presidenciais de 1986 – entre Mário Soares e Freitas do Amaral – pediu então que não haja dispersão de votos.
“A escolha não tem muitas dúvidas, porque, no domingo à noite, os portugueses vão decidir quem ganha e a vida como é. Há muitos que vão ao campeonato, mas só dois podem ganhar: Ou ganha o PS, e continuamos a avançar, ou ganha o PSD, e voltamos a recuar. Ninguém nos venha dizer que é votando num terceiro que resolvemos este empate. Não”, apontou, num pavilhão apinhado, com vários notáveis na primeira fila, entre eles os filhos de Mário Soares.
Costa (que, assim que entrou no palco, não resistiu a saltar ao som de palavras de ordem da JS) insistiu também na tese em que tem apostado mais fichas nas últimas horas: O PSD não se tem distanciado do Chega, antes pelo contrário, e há o risco de um cenário em que André Ventura venha a ditar as regras a um futuro Executivo em troca do seu apoio.
“Temos autoridade para dizer ao PSD que não compreendemos, nem podemos compreender, como é que passaram a campanha eleitoral toda a tentar normalizar um partido de extrema-direita, como o Chega, a tentar mitigar as propostas do Chega, a tentar-nos convencer que a prisão perpétua não é bem perpétua, e ontem à noite, num debate com o Augusto Santos Silva, ouvimos um vice-presidente do PSD a dizer que para o PSD não há linhas vermelhas num diálogo com o Chega”, frisou, acrescentando que “a extrema-direita não é mais um partido diferente dos outros partidos; a extrema-direita é um partido diferente da democracia, que está do lado de fora da democracia”.
Quanto aos antigos parceiros da Gerigonça, que já tinham sido criticados por Alegre, Costa disse que não guarda “rancores”. Mas não está disponível para dar a PCP e BE o que pediam, antes de votarem contra o Orçamento de 2022, caso a solução governativa de futuro tenha de vir a escrever-se de novo à esquerda. “Não sendo engenheiro, gosto de construir pontes; gosto de abrir caminhos, gosto de juntar pessoas e unir esforços. Mas também sei dizer quando é o momento de dizer: não, basta, daqui não passamos”.
Tendo em conta as palavras de Manuel Alegre, que dissera momentos antes que o PS não se guia por “sectarismo”, e muito menos é “trotskista ou leninista”, Costa também quis vincar a herança de Soares: “Sei que o PS confiou em mim para derrubar esse muro, porque sabia em escola é que andei. Não me baralho sobre qual é a nossa esquerda, não me baralho sobre quais são os nossos caminhos”.