Nos derradeiros dias da campanha eleitoral, os últimos, Jerónimo de Sousa rumou ao Alentejo, mais precisamente a Évora, na esperança de conseguir agarrar o único deputado eleito pela CDU no distrito: João Oliveira, novamente cabeça de lista, e que, em 2019, ocupou o seu lugar na Assembleia da República à tangente. Tendo em conta a meta estabelecida pelos socialistas, que têm agora dois dos três parlamentares eleitos pelo círculo eleitoral, mas que querem absorver os três, Jerónimo não poupou esforços nas críticas ao PS e quis fazer ver à plateia repleta do Teatro Garcia de Resende – satisfeita por ver o líder de regresso à campanha, depois dos problemas de saúde, que obrigaram à sua substituição – que cada deputado da CDU é uma força reforçada na defesa dos direitos humanos, laborais e dos serviços públicos. No entanto, para trás ficaram os dias em que os comunistas moviam multidões no Alentejo: a arruada da praça do Giraldo, a principal, até ao teatro, contou com menos gente que a do PSD, à mesma hora, no início desta semana. Mau presságio?
João Oliveira, um dos substitutos de Jerónimo na volta ao País, acabou por ser desviado da campanha no distrito pelo qual concorre, tendo só regressado ontem ao Alentejo. Por isso, ligou o turbo e, à VISÃO, explicou que, nos últimos dias, tem começado a campanha às 7:00 para apanhar os funcionários da câmara e termina por volta da meia-noite, estando ainda a contar com o efeito da pré-campanha que começou já no ano passado. Se a ausência do distrito o pode prejudicar? “É uma possibilidade, mas foi uma inevitabilidade”, admite. Já dentro da sala de espetáculos – que o recebeu com uma ovação de pé, só superada pela dedicada a Jerónimo de Sousa – esgrimiu argumentos e apresentou as contas do seu último mandato para apelar a ajuda de todos. “O PS fixou como objetivo impedir a eleição do deputado da CDU”, dizia, lembrando, contudo, que “o resultado ainda está em construção”.
Jerónimo de Sousa partilhou, a seguir, da mesma esperança: que o resultado da CDU ainda pode crescer e que cada voto conta para eleger mais um deputado comunista, com o objetivo de equilibrar “a correlação de forças na Assembleia da República”. Sempre com o intuito de “emendar” a tendência expressada pelos socialistas ultimamente, segundo a visão do líder do PCP, para se aproximarem dos sociais democratas, com quem aparecem taco a taco nas sondagens.
O PS está “ansioso para ter as mãos livres” e “preparado para deixar para trás o caminho da devolução de direitos, que a força da CDU impôs nos últimos anos”. “Durante vários dias recusou-se a dizer se estava disponível para a convergência com a CDU” e agora já aparece a mostrar “disponibilidade para dialogar com todos”. O que, para Jerónimo, é uma porta escancarada para a direita. “Nós também abrimos a porta à direita, em 2015, mas foi para os mandar para a rua, naturalmente”, continuou, arrancando umas gargalhadas à plateia, composta essencialmente por reformados e trabalhadores mais velhos, que, em alguns casos, aceitaram mesmo a sugestão das mantas colocadas nas costas das cadeiras e as meteram pelas pernas.
Para a “direita maquilhada”, que “com novas ou velhas roupagens sempre contribuiu para agravar as condições de vida”, tolerância zero. Jerónimo de Sousa não perdoa aos partidos à direita do PS “a defesa das privatizações, a desconsideração pelo Serviço Nacional de Saúde e pelos direitos dos trabalhadores”. Tudo bandeiras comunistas, que o líder ergueu bem alto, no seu dia de regresso à campanha, onde chegou visivelmente fragilizado, mas emocionado por estar finalmente no terreno e a contribuir para o resultado final do partido, que será conhecido já daqui a quatro dias.