O encontro marcado para o início da tarde, nas chegadas do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, na Maia, não prometia muita agitação, a julgar pela pouca afluência ao local. Mas eis que alguém grita: “Vêm aí os Costas!”. Um grupo de jovens populares de fato e gravata aproxima-se, saca da máscara com a caricatura do líder socialista e, de mão estendida e saco azul, aborda os raros passantes: “Arranja uma moedinha para a TAP, por favor?”. Estava feita a rábula para as câmaras de televisão, a sublinhar um dos pontos do programa eleitoral do CDS-PP: o da defesa da privatização da TAP. “Os socialistas têm de abandonar esta teimosia, que só uma empresa propriedade do Estado pode exercer um bom serviço público na área do transporte aéreo. Basta olhar para os outros países europeus, quase todas as companhias de bandeira são geridas por particulares. O negócio da TAP tem sido uma birra do ministro Pedro Nuno Santos e um buraco negro da gestão socialista que penalizou todos os portugueses”, apontava Francisco Rodrigues dos Santos. “Três mil milhões de euros fazem muita falta à economia, às empresas e às famílias. Quantos hospitais poderíamos construir com este dinheiro? Quantos medicamentos poderíamos pagar aos nossos idosos? Quantas pensões com mais dignidade poderíamos pagar aos nossos ex-combatentes? Quantos jovens poderíamos ajudar no acesso a uma habitação condigna? Quantos mais polícias poderíamos contratar? Enfim, o Estado deve-se concentrar nas suas funções de soberania e tudo o resto é abrir espaço aos privados para desenvolverem a sua missão”, defendeu.
A privatização não é, contudo, para avançar no dia seguinte às eleições legislativas, caso o partido popular chegue ao Governo, ao contrário do que o líder centrista afirmou em dezembro, após o anúncio da aprovação pela Comissão Europeia do plano de reestruturação da TAP e da ajuda estatal de 2.550 milhões de euros. “É uma prioridade, porque tem sido um sorvedouro de dinheiros públicos que fazem falta à nossa economia, mas há uma linha que nos diferencia de outras direitas: nós não defendemos uma privatização selvagem da TAP, não somos aquela direita que quer privatizar tudo e todos, até o ar, essa deriva maluquinha que o Estado não deve estar em lado nenhum e é um inimigo das pessoas. Isso é a Iniciativa Liberal, que até quer privatizar a Caixa Geral de Depósitos… o que seria dos depositantes portugueses se não tivessem a salvaguarda do banco público, sobretudo depois das várias crises que houve na banca, o que seria dos nossos setores produtivos se não pudéssemos fortalecer o banco de fomento para apoiar a nossa economia”. Antes de dar esse passo, defende, “é importante que os portugueses tenham um retorno financeiro do investimento que fizeram na TAP nos últimos anos, de milhares de milhões de euros, para pagar esta gestão ruinosa, e é preciso salvaguardar a situação social dos trabalhadores da TAP, que não têm responsabilidade nenhuma na situação a que chegou a empresa e muitos poucos partidos falam neles, não podem ser um dano colateral destas negociatas”.
A escolha do Aeroporto Francisco Sá Carneiro não foi inocente. “Em dezembro de 2021 a TAP atingiu aqui uma quota de mercado de 10%, que é muito pouco, isto é um aeroporto que serve 5 milhões de portugueses, que são chamados a pagar a TAP e ela está a ser gerida de forma desproporcional e não respeitando a justa distribuição do seu esforço por todo o território. Todos estão a pagar a TAP, mas há uns que são mais portugueses do que outros”.
Em anteriores ações de campanha, Francisco Rodrigues dos Santos já tinha concordado que António Costa deve um pedido de desculpa a David Neeleman, como ex-accionista da TAP exigiu, por o primeiro-ministro ter dito que avançou com a nacionalização da companhia aérea para evitar que o empresário brasileiro e americano desse cabo da empresa, como fez com outras. “António Costa é um repelente do investimento estrangeiro em Portugal. Não há nenhum empresário que queira criar riqueza em Portugal com as críticas que lhes faz constantemente, com a carga fiscal que pratica, com a burocracia e a corrupção que são apanágios do PS. Por isso, podia pedir a todos os empresários um sincero pedido de desculpas. E podia pedir desculpas aos portugueses, tem empobrecido as famílias e as empresas”.
A ação de sensibilização do CDS-PP terminou com os falsos Costas de sacos vazios, desconfortáveis, como reconheceram a vestir “a pele do lobo”. “Os portugueses não querem dar nem mais um cêntimo. É um mau prenúncio para o primeiro-ministro, nem votos, nem dinheiro”, concluía o líder centrista. Para esta noite, está marcada a celebração nos jardins do Palácio de Cristal, no Porto, do 47º aniversário do cerco ao primeiro congresso do CDS pela extrema-esquerda, um episódio escaldante, que obrigou a uma intervenção militar e policial. Um momento para “homenagear militantes históricos e um percurso de resistência, de convicção e de determinação”, explicou Filipa Correia Pinto, a cabeça de lista do CDS pelo círculo eleitoral do Porto – em substituição de Cecília Meireles, um dos rostos mais conhecidos do Parlamento, que decidiu abandonar os cargos partidários, em desacordo com o líder centrista. Ciente de não gozar da mesma notoriedade da sua antecessora, mostra-se, ainda assim, confiante nos resultados das eleições. “Quando o partido foi fundado, tinha um projeto para Portugal que ainda não se cumpriu e se mantém atual”, acredita a advogada de 45 anos. E nem as declarações de ontem de Adolfo Mesquita Nunes – o antigo vice-presidente do CDS, do qual se desvinculou – a manifestar o apoio à Iniciativa Liberal, a fazem hesitar quando fala na união do partido. Francisco Rodrigues dos Santos já tinha desvalorizado este voto. “Ainda agora cheguei ao aeroporto e uma senhora dirigiu-se a mim a dizer que votava no CDS. Esse voto vale o mesmo do que o voto desse senhor.”