Poderá até estar “picado” para ganhar as eleições, mas Rui Rio é um homem discreto (tímido?) no contacto com o povo, questionando-se a sua escolha em manter a campanha nas capitais de distrito, preferindo não comparecer ao último debate com os líderes partidários, que passou esta manhã nas rádios. A arruada pelo centro histórico de Vila Real, acompanhada por cerca de meia centena de pessoas, decorreu sem sobressaltos – e com pouca emoção. Rio entrou e saiu das lojas e cafés a oferecer gerberas laranjas às senhoras, mas muito parco nas palavras. Aqui e ali pergunta “Então, como vai o negócio?” e pouco mais. Nem uma pequena paragem na histórica Pastelaria Gomes, para provar o tradicional covilhete – as cristas e os pitos de Santa Luzia seriam, certamente, mais indigestos – lhe liberta a verve. A seu lado na arruada, o advogado Artur Soveral Andrade, natural de Peso da Régua, que passa do terceiro para o primeiro lugar na lista do PSD em Vila Real. Mais ao longe, seguia Luís Leite Ramos, que anteriormente liderava os representantes transmontanos e, nestas eleições, não foi incluído na lista de deputados. “Mesmo não sendo candidato, continuo a ser militante ativo e entendo que Rui Rio tem a candidatura que melhor serve o País, por isso tinha de estar presente”, esclarece, ele que diz não participado ativamente na disputa interna do partido, pois já tencionava regressar à carreira académica. Unidos, venceremos, parece ser a crença.
Este é, provavelmente, o território onde o PSD se sente mais confortável. Nas legislativas de 2019, dos cinco mandatos que pertencem ao distrito, o partido laranja alcançou três lugares, com 39,04% e 39.143 de votos (o PS conseguiu dois lugares, com 37, 21% e 39.143 votos). Resta saber até que ponto Manuela Tender, deputada do PSD entre 2011 e 2019 e atual cabeça de Lista do Chega em Vila Real, conseguirá baralhar as contas – ou quererá apenas medir as forças em Valpaços, município onde se diz desejar candidatar-se à presidência.
Os discursos ficaram para mais tarde, para as Conversas Centrais, as sessões de esclarecimento no final de cada dia de campanha, esta quinta-feira, 20, dedicada à Economia e Finanças. A palavra é dada, em primeiro lugar, a Joaquim Miranda Sarmento, presidente do Conselho Estratégico Nacional (CEN) do PSD – apontado como possível Ministro das Finanças de um governo PSD – que durante largos minutos, ininterruptamente, dá largas aos seus dotes de professor. A “aula” repete os diagnósticos e números já longamente explanados pelo líder do PSD: a falta de crescimento económico de Portugal, que considera ser a principal preocupação dos portugueses; os salários baixos; o aumento das desigualdades, com o crescimento da taxa de pobreza; o endividamento cada vez maior do País; o aumento da carga fiscal; os serviços públicos ineficientes; o sistema fiscal instável; a elevada tributação das empresas. Aproveita o exemplo da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), “uma instituição do ensino superior de referência”, para falar das suas raízes transmontanas, em Vinhais, e da necessidade de “integrar o conhecimento e a investigação na economia, empresas, indústrias e serviços”. “A UTAD tem feito esse caminho com muito mérito, mas é preciso aprofundar essa ligação”, realça Miranda Sarmento.
Seguem-se algumas perguntas da assistência, a dar voz às preocupações regionais. “Qual é a política empresarial para o interior do País? Haverá uma política de discriminação positiva?”, questiona o empresário e militante Hugo Letra, 42 anos. “Temos de discutir a fundo que modelo de descentralização queremos, este que temos está esgotado… precisamos de uma espécie de autarquias regionais”, aponta o presidente do CEN. E volta a sublinhar a necessidade de alavancar o ensino superior nas regiões do interior, seguindo o exemplo das Universidades do Minho e de Aveiro, “as regiões que mais têm crescido no País”.
Entretanto, fica resolvido o pequeno problema de sangramento do nariz de Rui Rio, que o afastou na primeira parte – “foi mau olhado”, alguém grita na plateia – e o líder encerra a sessão, agarrando a deixa sobre quem é mais amigo das famílias, lançada pela plateia. “Quando o PS nos diz que vai continuar com as mesmas políticas, que temos de baixar o IRS e que o PSD não gosta das pessoas, o que está a dizer é que vamos continuar a empobrecer alegremente”, sublinha o candidato a primeiro-ministro, reforçando a necessidade de ajudar primeiro as empresas e baixar o IRC. “O PS vai pelo facilitismo, mas nós preferimos ir pelo rigor. O que é importante é a atitude com que se vai governar. Temos de reformar sem medo todos os setores de atividade e de afrontar interesses corporativos ou outros”, conclui. Ao seu discurso, Hugo Letra aplaude com convicção.