Encontrar Rui Rio na fotografia do segundo dia da campanha social democrata é como procurar o Wally, o rapaz de camisola às riscas vermelhas e brancas, num dos seus cenários confusos de multidões. Desde o momento em que pisou a Avenida da Igreja, no bairro lisboeta de Alvalade, que o presidente social-democrata foi recebido como uma estrela de rock, e fez mais de duas centenas de pessoas moverem-se aos empurrões para tentar estar o mais perto do líder possível, sem qualquer distanciamento social rua abaixo. Segundo o diretor de campanha, José Silvano, o ajuntamento foi uma surpresa, uma vez que apenas foram convidados os dirigentes locais, “tal como em 2019, e nessa altura nem sequer esses apareceram todos”. Já nesta segunda-feira, dirigentes juntaram-se a candidatos a deputados, à JSD, a presidentes das Câmaras e Juntas de freguesia da área metropolitana para dar força ao líder, que só encarou os jornalistas no final para comunicar que espera “que a campanha ganhe elevação”.
Foi Rio quem entrou a brincar ontem – com um tweet provocatório acerca do local de voto de António Costa, que gerou alguma indignação e acusações de desinformação sobre o voto antecipado -, mas hoje o líder laranja já estava em modo sério. No único momento em que os seus seguranças permitiram que os jornalistas se aproximassem mais para perguntas, Rui Rio acusou o principal adversário de jogos políticos para distrair o eleitorado das propostas sociais democratas, depois de o secretário-geral do PS ter voltado à carga, esta manhã, com a acusação de que Rio estaria a “normalizar” o assunto da prisão perpétua. No entanto, prometeu: “não vai ser um pingue-pongue, porque, se o Dr. António Costa continuar desta forma, vai ficar a falar sozinho”.
O líder laranja atacou o socialista por este “tentar incutir medos nos portugueses”, utilizando “o papão da direita”, quando o PSD “nem sequer é de direita” e de “deturpar as ideias” sociais democratas. “Não é a primeira vez que o PS faz isto. Espero que a campanha ganhe elevação, que o Dr. António Costa faça as propostas dele e critique as minhas de que discorda, tal como eu criticarei as dele. Não vou inventar aquilo que ele não disse, os meus argumentos contra o PS são na base do que o PS fez e quer fazer, e não do que o PS não faz”, disse, lado a lado com o seu cabeça de lista por Lisboa, o médico e deputado Ricardo Batista Leite, e do presidente da Câmara, Carlos Moedas, que entrou hoje na campanha como o símbolo de que é possível vencer as eleições, mesmo quando as sondagens não o indicam.
Foi assim que Rio percorreu a avenida, rodeado por figuras da sua confiança – como sendo também o secretário-geral do partido, José Silvano (que conheceu, nesta segunda-feira, o pedido de condenação do Ministério Público por falsidade informática, no caso das “presenças fantasmas” no Plenário e que desejou ver-se absolvido no próximo dia 2) e de nomes que deram que falar nos últimos tempos, como a candidata à Amadora, Suzana Garcia. Com gritos, cânticos, bandeiras e até um camião TIR com a imagem do presidente ampliada, os sociais democratas fizeram a festa.
O ponto de encontro foi o restaurante Tico-Tico, o primeiro sítio onde o presidente do PSD entrou para cumprimentar os funcionários, e prometer o seu regresso para “comer o melhor croquete do mundo”, se for eleito no próximo dia 30; mas o elogio até a um empregado de mesa soou a exagero: “é só o melhor do País”, ouviu como resposta. Foi ainda aqui, perante a surpresa de um casal de estrangeiros que fazia um almoço tardio, quando viu o restaurante invadido por uma multidão, que Rio deu uma flash entrevista para o site de notícias alemão SFR, a cobrir as legislativas portuguesas.
Seguiram-se mais umas quantas paragens, desta feita sem direito a público, pois o espaço e o tempo escasseavam, com Rui Rio a ter de se ir preparar para o debate desta noite com todos os partidos com lugar parlamentar. Mas ainda deu para responder ao apelo de Maria Ferreira, à porta da furtaria Morteira & Santos, onde trabalha, e se encontrava a pedir uma bandeira social democrata. “Eu gosto dele. É honesto e eu sempre votei no PSD”, admite, depois de o líder virar costas com uma laranja oferecida.
Dos 8 aos 80, ouvia-se nas conversas de rua, que houve quem tivesse faltado às aulas e ao trabalho para mostrar a Rio que acreditam nas suas promessas de mudança. Gabriel C., de Moura, mas a estudar Direito em Lisboa, decidiu mesmo passar o seu 20.º aniversário junto da caravana do PSD. Juntou-se à Juventude Social Democrata (JSD) há um ano, e já participou nas Autárquicas, por pensar que Rio é a voz que “pode reformar o País” e “por ser um dos poucos políticos que oiço a falar de descentralização”. Ao seu lado, Francisco Gomes, 17 anos, estudante de Humanidades no Liceu Pedro Nunes e que sonha com um futuro em História, acrescenta estar “farto de viver num país estagnado, sem oportunidades para os jovens, que acabam a emigrar”. “Tenho medo de receber menos do que aquilo que estou a dar para me formar”, confessa. “Por isso é que me juntei” à onda laranja.