Perante o facto de, à exceção do líder do CDS, a porta-voz do PAN não ter sido agressiva nos debates e até ter mostrado disponibilidade para estar com PS ou PSD numa maioria parlamentar, Rui Rio terá visto na disponibilidade de Inês Sousa Real de rumar ao Porto, para o último frente a frente televisivo entre líderes partidários, mais do que aquilo que verdadeiramente representou o gesto da líder do PAN.
Porém, este sábado, o presidente do PSD, que arranca a campanha eleitoral amanhã em Barcelos, só apercebeu de tal quando o embate já estava no ar e com Sousa Real a disparar várias medidas de que o seu partido não abdicará numa futura negociação de apoio de incidência parlamentar – ou qualquer outra solução governativa que aí venha.
Inês Sousa Real fez várias fugas ao que pareceu ser o esperado por Rio, ao começar logo por dizer que se apresentava ali com as suas “linhas vermelhas, arremessando depois contra o líder do PSD acusações de que considera o Parlamento “um local qualquer”, ao concordar acabar com os debates quinzenais, criticou as políticas que o PSD propõe para o ambiente e agricultura, além da ausência de políticas de proteção animal e o incentivo à eucaliptização, e deixou claro que não abdica de, a mexer-se nos impostos, baixar o IRS em linha com o IRC – e não apenas o segundo já, como os sociais-democratas querem.
Do outro lado da mesa esteve um líder social-democrata que, após sinalizar com sorriso a “abertura à negociação do PAN” e o facto de que “o PSD votou coisas do PAN” no Parlamento, fez por nunca optar por um contra-ataque, porque nunca sabe o dia de amanhã. “Se eu ganhar as eleições, será difícil ter uma maioria absoluta. Os partidos devem dialogar; porque não haverá maiorias absolutas. Se não tenho maioria absoluta, tenho de negociar”, acenou Rio, que acabaria por deixar que Sousa Real o encostasse no final do debate, de novo e com mais intensidade, a um alegado menosprezo pelo Parlamento.
“A política tem que ter credibilidade; não tem de ser feita com espetáculo, para depois abrir o telejornal. Tem de ser feita com seriedade. Abrir o telejornal com dois gritos, um soundbite, é descredibilizar”, explicou, perante o facto de o verdadeiro soundbite deste frente a frente ter sido o facto de Sousa Real o ter acusado de “desprezo pelo Parlamento” e ainda ter fechado com um recado lacónico – “Se quer seriedade então não dê a mão à extrema-direita”.
MAIORIA PARLAMENTAR
Rui Rio admitiu não descartar um eventual apoio do PAN, caso venha a ganhar com uma maioria relativa, tendo dado sinal positivo da disponibilidade que Sousa Real já mostrou quanto à possibilidade de dar a mão ao PS ou ao PSD. Aliás, numa declaração dúbia, o líder do PSD aludiu a essa posição do PAN, lembrando que o partido esteve ao lado do PS na crise do orçamento: “Quem vai aprovar o Orçamento para 2022? Só o PAN é que votou com o PS”.
Sousa Real admitiu que entre as “linhas vermelhas” do PAN, e se o eventual acordo for apenas de incidência parlamentar, está a exigência do partido para que os debates quinzenais voltem. “Um Governo não tem que olhar com desprezo para a Assembleia da República. Achar que dialogar com a Assembleia da República é uma perda de tempo é desprezar o trabalho dos deputados”, disse a porta-voz do PAN, não esclarecendo o que quis dizer quando, há dias, abriu a porta a negociações com o PS e PSD.
PROTEÇÃO AMBIENTAL
O PAN recusa ouvir falar na possibilidade um Governo legislar no sentido da se permitir a plantação de árvores de crescimento rápido – como é o caso do eucalipto. Tal medida consta no programa eleitoral do PSD e Rui Rio assegurou que visa reabilitar os territórios abandonados pelos seus proprietários, que são “cerca de 25% do território são silvas e mato, ”dando-lhes a hipótese de rentabilizarem os seus terrenos e evitando assim os incêndios.
“Metade dos incêndios florestais começam nesse tipo de território, que não é limpo porque os donos não tiram rendimento nenhum e até gastam a limpar o mato. Aquilo que entendemos é o ordenamento florestal, permitirmos que sejam plantadas de árvores de crescimento rápido, que dão rendimento ao proprietário. Mas o proprietário tem também de plantar árvores de crescimento lento e que não rentáveis”, explicou Rio, já depois de Sousa Real ter argumentado que se trata de “voltar ao tempo da lei Cristas, do tempo em que se andava a plantar eucaliptos por todo o país, em que Portugal se tornou uma caixa de fósforos a arder. É ter a memória curta em relação a 2017”.
FRASES DO DEBATE
RUI RIO:
“Não tenho mostrado desprezo pelo Parlamento, mas, da mesma forma, não escondo que sou crítico da forma como funciona. A primeira vez que fui deputado, em 1992, a forma como o Parlamento funcionava na altura tinha uma validade e uma atividade muito superior, que tem se vindo a degradar-se”.
“Não há dia nenhum que não esteja numa comissão parlamentar um membro do Governo. Para mim, a política tem de ter credibilidade, tem de ser feita com seriedade, não tem de ser feita para o espetáculo, não tem de ser feita para abrir o telejornal. O objetivo daquele tipo de debate [quinzenal] são os gritos e abrir o telejornal com soundbite. É descredibilizar”.
INÊS SOUSA REAL:
“Não só pelo fim dos debates quinzenais, mas pela forma como Rui Rio encara a forma de poder participar de forma mais ativa na Assembleia da República, porque se o PSD tiver condições de formar Governo no próximo dia 30 é importante que esteja disponível para falar com o Parlamento”.
“Foi pela mão do Bloco Central, PSD e PS, que se acabaram os debates quinzenais e se aumentaram o número de assinaturas para as petições”.