“Uma greve geral da Função Pública? Esse é, naturalmente, o último recurso que a UGT deve considerar”. Mário Mourão, novo secretário-geral da União Geral de Trabalhadores (UGT), eleito no 14.º congresso da central sindical, realizado no passado domingo, não fecha à porta à luta dos trabalhadores na rua, mas dá prioridade ao diálogo.
“A UGT sempre foi uma central de diálogo”, afirma. O líder sindical acredita na receita, e confia ser possível ser criar uma dinâmica de “parceria” nas conversas e negociações com Governo e também na concertação social.
No Irrevogável, programa de entrevistas da VISÃO, Mário Mourão admite, porém, que “se as propostas e o esforço da UGT de conciliar posições, de criar pontes, de fazer acordos no sentido de melhorar a vida dos trabalhadores portugueses, não surtir efeito”, então, “não há dúvida que só resta a rua”. “E se a UGT quer atingir objetivos nunca pode descartar a luta na rua. E estamos, obviamente, preparados para isso”, garante.
Presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Setor Financeiro de Portugal (SBN) e, desde novembro, secretário-geral da Tendência Sindical Socialista (TSS) – que, tradicionalmente, elege o secretário-geral – Mário Mourão chega à liderança num momento em que os números indicam que a UGT perdeu, entre 2013 e 2021, 43 mil trabalhadores filiados nos sindicatos da central – que tem, agora, 435 mil.
Uma realidade que Mário Mourão se propõe alterar: “Não é algo que nos desanime, bem pelo contrário. Vamos iniciar agora um novo ciclo e, naturalmente, uma das minhas prioridades é incentivar a sindicalização. Há que inverter esta tendência, e julgo que há condições para fazê-lo. Temos de ganhar a nova geração, que entrou agora para o mercado de trabalho, e a UGT vai estar nessa batalha”, refere.
Julgo que [José Manuel Torres Couto] terá exagerado [nas críticas ao ex-secretário-geral Carlos Silva]
Mário Mourão
Estes factos serviram, no entanto, para que, esta semana, Carlos Silva ficasse com as “orelhas a arder”, depois do fundador da UGT, José Manuel Torres Couto, não ter popuado nas críticas. Em entrevista ao Expresso, o antigo líder da central sindical, entre 1978 e 1995, classificou o mandato do anterior secretário-geral como “um desastre”.
Perante a polémica, Mário Mourão opta por colocar “água na fervura”. “Entrei para a UGT quando Torres Couto era secretário-geral da UGT, tenho por ele muita admiração”, mas, sublinha, “cada secretário-geral viveu um tempo”. “Hoje, os trabalhadores esperam [dos sindicatos] outras coisas, outra linguagem”, assegura. Por isso, prefere colocar uma “pedra” no assunto: “Cada um tem o seu tempo, não vou comentar as declarações, mas julgo que [José Manuel Torres Couto] terá exagerado”, realça, reforçando a ideia de que “temos de nos adaptar aos novos tempos”.
Maioria absoluta “não é dificuldade”, garante
O novo secretário-geral da UGT considera que a maioria absoluta socialista “não é uma dificuldade” para o diálogo com o Governo. Pelo contrário, o antigo deputado do PS (entre 2009 e 2011) considera que, neste contexto, “o Governo tem todas as condições para governar”. “É até um fator de satisfação, pois não há desculpas para não se fazer o caminho que se tem de fazer”, sublinha.
Para este mandato, Mário Mourão coloca no topo das prioridades o aumento salarial na Administração Pública. Face ao aumento da inflação, o secretário-geral da UGT defende “um aumento intercalar”, na ordem dos 1,3% – referencial com base no valor da inflação em 2021 –, “mas sem prejuízo de concluirmos negociações, para um aumento maior”, que se pode estender mais para setembro ou outubro, quando forem divulgados os dados da inflação deste ano.
No Orçamento de Estado para 2022, o Governo inscreveu aumentos de 0,9% para a Função Pública, mas Mário Mourão acredita “que o Governo tinha condições para mais”, até porque considera que “não é o aumento dos salários que contribui para o aumento da inflação”. “Não há, por isso, desculpa, para que não se inicie o combate aos baixos salários”, reforça.
Um combate que Mário Mourão quer ver reforçado durante toda a legislatura. O secretário-geral da UGT vê “com satisfação” a intenção do executivo de António Costa continuar a aumentar o salário mínimo nacional, agora para os 900 euros, até 2026, mas aponta para valores mais altos: “Acho que há ainda muito caminho a fazer. Faltam quatro anos, e a UGT vai continuar a defender os 1.000 euros de salário mínimo nacional”. “Julgo que há condições para chegarmos a esse número”, conclui.