A publicidade que António Costa está a fazer ao Plano de Reconstrução e Resiliência pode revelar-se um “fator determinante” para o Partido Socialista, nestas eleições Autárquicas. No PSD, “a substituição de Rui Rio parece até já estar em curso” e o Chega deve ganhar a força que tanto prometeu conquistar. Esta é a análise que o politólogo e professor catedrático da Universidade Lusófona José Filipe Pinto faz dos cenários eleitorais do próximo dia 26.
A sua maior preocupação – revela em entrevista ao Irrevogável – é o crescimento do partido de André Ventura, que “se deve afirmar como um partido de âmbito nacional”. Se até agora, José Filipe Pinto olhava para o Chega como “uma ideia, um líder, mas não um partido”, a entrega de 169 candidaturas autárquicas ao Tribunal de Contas, “mais do que as do Bloco de Esquerda”, indicia a mudança na organização. “Está a transformar-se num movimento transversal à sociedade”, indica o especialista em populismo.
Embora José Filipe Pinto não creia que o Chega possa ganhar câmaras, dá como certo que passará a ter uma palavra a dizer na política local, através da eleição de vereadores. André Ventura “está a copiar a estratégia de Marine Le Pen, em França”, e “a partir daqui será sempre alguém a ter em conta numa possível união da direita”. Mais: “Estas eleições podem consolidar o Chega como a terceira força partidária em Portugal – e isto é preocupante”, considera.
Quem mais perde com esta ascensão será, na opinião do politólogo, o PSD, que reduz o seu peso na equação da direita. Partido que “dificilmente fará pior [do que nas Autárquicas de 2017, quando os sociais democratas tiveram o seu pior resultado de sempre]”. Mesmo assim, José Filipe Pinto não está à espera de que o PSD consiga fazer o “suficiente para legitimar Rui Rio”, porque “quem não consegue conquistar a montra do poder – Lisboa -, nem o Porto ficará limitado em termos de afirmação pessoal como líder partidário”. E acredita mesmo que o “processo de substituição de Rui Rio já estará em curso”.
Já os socialistas deverão capitalizar com o discurso de António Costa, que tem sugerido que uma “ligação prioritária entre o poder local e central passará pela possibilidade de o PS gerir os dois poderes”. O que o cientista político classifica como “eticamente incorreto” e “pouco democrático”.
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