O convidado desta semana do programa de entrevista da VISÃO, Irrevogável, o sociólogo e politólogo Pedro Magalhães, considera que o pouplismo veio para ficar. “Era um gigante adormecido, em Portugal. Faltava-lhe representação orgânica. A eleição de um deputado faz toda a diferença”.
Desenvolvendo o tema dos estudos de opinião, em contexto de eleições presidenciais, o investigador principal do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa), especicalizado na área da opinião pública, atitudes e comportamentos políticos e instituições políticas e judiciais, estabelece várias diferenças entre as motivações dos eleitores, caso se trate deste tipo de eleição ou de legislativas (embora a Economia tenha importância em ambos os casos, tem-na mais nas legislativas). A “simpatia” pelo candidato, embora difícil de avaliar em termos objetivos, tem aqui mais influência, o que ajuda a explicar as transferências de votos de eleitores de partidos que escolhem candidatos presidenciais de outras áreas políticas. Mas adverte: “No entanto, é preciso ter muito cuidado, quando se diz que um terço dos eleitores de um partido votam num candidato diferente: é que estamos a falar de amostras muito pequenas, às vezes, de dez pessoas”. Também por isso, o perito em estudos de opinião desconfia das sondagens realizadas a muita distância do dia das eleições, sobretudo, num contexto de pandemia, que atrai as atenções gerais e relega as presidenciais para um plano secundário. Assim, embora ficasse surpreendido se Marcelo Rebelo de Sousa tivesse de disputar uma segunda volta, admite que “só as sondagens que forem efetuadas, com trabalho de campo, neste mês de janeiro, se aproximam de um grau de segurança mais efetivo”.
Pedro Magalhães considera, pela sua experiência, que as pessoas estão cada vez menos disponíveis para responder a inquéritos de opinião, “talvez por saturação do telemarketing”. E diz que isso ajuda a explicar algumas discrepâncias, nomeadamente, nos EUA, onde o fenómeno se nota mais. “Os bons resultados de Donald Trump, se comparados com as sondagens, também se explicam por isso. E, mais do que prejudicadas pelo voto envergonhado, de pessoas que têm vergonha ou receio de confessar que votam num determinado candidato, as sondagens ressentem-se do facto de estes eleitorados se recusarem a responder, por associarem estes estudos aos órgãos de informação de referência, que consideram estar ao serviço das eleites políticas”.
Em Portugal, o fenímeno do Chega, mais do que refletir as motivações populistas de outras paragens na Europa, como a pressão imigrante – que não se sente tanto em Portugal – reflete “o sentimento de um eleitorado que considera que o sistema politico está corrompido e é irreformável, um eleitorado que aposta na rutura”.
Já a pandemia poderá prejudicar o combate político dos concorrentes de Marcelo, que vêem o seu espaço de ação relegado para segundo plano, na atenção das pessoas. Por outro lado, essa mesma pandemia pode prejudicar o Presidente recandidato, “por potenciar a abstenção de um eleitorado mais idoso, tendencialmente votante do PR, e que tem, normalmente, maior assiduidade eleitoral”. Mas, ressalva, “neste aspeto, trata-se de uma mera especulação…”
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