António Correia de Campos, 77 anos, antigo ministro da Saúde de governos do PS e ex-presidente do Conselho Económico e Social (CES), foi o convidado desta semana do programa de entrevistas da VISÃO “Irrevogável”. Muito crítico da carta dirigida esta semana ao Governo e assinada por bastonários da Ordem dos Médicos, afirma que tanto este organismo como o seu congénere dos enfermeiros “se profissionalizaram nas críticas ao Governo”. Sobre a matéria de facto, o recurso ou não aos privados, para complementar o Serviço Nacional de Saúde, no combate à pandemia, diz que o SNS sempre se articulou com o setor privado e que isso continua a acontecer. Mas acrescenta: “Os privados mostram-se disponíveis para receber doentes não Covid… Ora, nós agradecíamos que eles se disponibilizassem a receber doentes Covid…”.
O antigo ministro mostra-se contra uma negociação “nacional” que nivele os preços pagos, por doente, aos privados, pelo custo de cada doente no SNS: “É que os privados não têm servidões que o público tem de ter. O público não pode fechar serviços menos rentáveis e mesmo quando fecha uma urgência oito horas por noite é uma calamidade nacional. E o público tem de ter investigação, estágios dos estudantes de Medicina, etc., e tem de acolher todo o tipo de doentes. Os preços contratados com os privados devem ser diferenciados e definidos caso a caso, pelos hospitais”.
Correia de Campos admite que a situação que ocorreu com a realização do Grande Prémio de Fórmula 1, no Algarve, terá escapado ao controlo das autoridades, atribuindo à falta de um bom comportamento cívico a aglomeração de multidões no evento. E espera que o Governo, de futuro, seja mais exigente, preconizando medidas impopulares e até manifestações na rua contra essas medidas, “como tem acontecido noutros países”.
Sobre o voto do Bloco de Esquerda contra o Orçamento, com o pretexto da falha no reforço do SNS, reconhece algumas razões aos bloquistas. Por exemplo, “a questão da exclusividade” não foi resolvida. E defende que seria possível alocar verbas gastas em serviços externos ao reforço da remuneração dos profissionais. Mas recusa o “fundamentalismo” do Bloco, no que respeita à valorização exclusiva do SNS, sem atender à importância dos privados.
Admite que sempre houve tensões no PS, relativamente às políticas de Saúde, e até lembra as dificuldades criadas por figuras como Antóno Arnaut ou Manuel Alegre, quando, como ministro, pretendeu modernizar o SNS. Nas presidenciais, anuncia que votará em Marcelo Rebelo de Sousa.
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