Acabou por ser um dos mais aplaudidos na convenção do BE, em Lisboa, ao usar o púlpito para assumir que é gay. Mas Rui Jorge Sousa também que fez questão que é um homossexual no Interior e o único autarca do bloquista num Alto Alentejo que a estratégia partidária parece esquecer. Apesar de há um mês, Mariana Mortágua ter tido um gesto semelhante, nos ecrãs da televisão, a candidata à sucessão de Catarina Martins não contará com o voto daquele dirigente, este domingo. “Sou gay e autarca numa zona do País que não é Lisboa, Coimbra ou Porto, e o Bloco para essa realidade não tem uma resposta; é quase como se não existíssemos”, admite à VISÃO.
Aos 41 anos, Rui Jorge Sousa é deputado do BE na Assembleia Municipal de Ponte de Sor, o que o torna no único eleito do partido em todo o distrito de Portalegre.
“A atual coordenação do Bloco não apoia o suficiente os camaradas no distrito de Portalegre. Sendo esta a primeira convenção que venho, decidi que ia assumir que sou gay. Tinha de dizê-lo, porque no distrito de Portalegre só há um deputado municipal eleito, que sou eu, e, sendo uma zona tão envelhecida e onde as pessoas não vivem na bolha de Lisboa, deveria dar-se valor à questão de o único eleito do BE ser homossexual”, assume, quando ainda decorria a votação para eleição da Mesa Nacional do Bloco, uma espécie de parlamento do partido, e ao qual este dirigente corria em 10º. lugar pela Moção E (da oposição interna).
“Fiz questão de dizer que era homossexual para que percebam que o Interior não é paisagem e que as pessoas como eu têm que ter os seus direitos iguais aos de qualquer outro cidadão”, admite autarca
O bloquista diz estar com o rosto da oposição interna, Pedro Soares, porque “a Moção E não exclui como a Moção A; basta que ouçam as palavras dos elementos do Algarve, para perceberem que esse BE, que agora se candidata, não olha para o País e para os autarcas do partido com o mesmos olhos”.
“Eles sabem que, pelo distrito de Portalegre só são eleitos dois deputados, ou que PS e PSD dividem ou que fica como está agora, com dois deputados socialistas. Fiz questão de dizer que era homossexual nesta convenção para que percebam que o Interior não é paisagem e que as pessoas como eu têm que ter os seus direitos iguais aos de qualquer outro cidadão”, diz o autarca, empresário da restauração.
Membro da coordenação distrital do BE de Portalegre, já foi candidato nas autárquicas de 2017, então ainda como independente, não tendo sido eleito. Só que a estreia do bloquista não se deu pelo partido mas antes pelo PS.
“Já tinha entrado nas listas do PS, em Ponte de Sor, como independente. Mas quando assumi a homossexualidade, há oito anos, o próprio PS afastou-se. Eu tinha sido casado com uma mulher, e até então o Rui Jorge era muito bom para ajudar nas campanhas. Quando me assumi, deixei de ser preciso para o quer que seja. Deixaram, basicamente, de contar comigo”, confessa.
Já depois desta conversa, acabou por ser eleito para a Mesa Nacional, tendo em conta que a Moção E conseguiu a eleição de 13 membros. A Moção A, liderada por Mariana Mortágua, conseguiu eleger 67 membros.