Passados 25 dias depois de ser tornado público que Alexandra Reis recebeu 500 mil euros de indemnização para sair da administração da TAP, provocando novo abalo no governo de António Costa – com a demissão do governo da ex-secretária de Estado do Tesouro e do ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos –, a presidente executiva da companhia aérea nacional, Christine Ourmières-Widener, foi ao parlamento, na sequência do requerimento potestativo do Chega, para prestar esclarecimentos sobre um processo que continua a gerar dúvidas e questões.
Na comissão parlamentar de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação, Christine Ourmières-Widener, em resposta às primeiras perguntas de André Ventura, admitiu que foi o antigo secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Santos Mendes, que “deu o aval” para o pagamento daquela rescisão, que já levou a que o Ministério Público tenha aberto um inquérito.
Pormenorizando que Alexandra Reis saiu da TAP “por razões profissionais”, uma vez que “havia um desajuste” entre aquela administradora e a equipa e o plano de reestruturação escolhido para a transportadora aérea, Christine Ourmières-Widener explicou que “tinha estado em contacto com o secretário de Estado, Hugo [Santos] Mendes, que deu o aval para o pagamento da rescisão”, admitindo que não teve contacto nesta matéria com o Ministro das Finanças, Fernando Medina, pois “presumia” que “estava a haver uma coordenação” entre Hugo Santos Mendes e o Ministério das Finanças.
Ainda assim, garantiu que o pagamento da indemnização a Alexandra Reis foi “caso único”, desde que o Estado português voltou a controlar a maioria do capital da TAP. Neste particular, destacou que o antigo administrador Diogo Lacerda Machado saiu da companhia sem qualquer compensação.
Questionada sobre o seu salário, a presidente executiva da TAP afirmou que “o mesmo é público” e que só irá receber um bónus em 2025 e caso o plano de reestruturação da empresa seja bem sucedido.
“Foi tudo discutido pelos advogados”. CEO da TAP confirma colaboração de sociedade de irmão de Marcelo
Em resposta ao deputado do PS, Carlos Pereira, Christine Ourmières-Widener assumiu que o processo de rescisão de Alexandra Reis com a TAP viria a tornar-se num caso “excecional”, voltando a justificar esta saída com a existência de “choques” no seio do conselho de administração da companhia áerea nacional – por “não estar alinhada” com o plano de reestruturação.
Sobre o processo de rescisão, Christine Ourmières-Widener confirmou que “foi tudo discutido pelos advogados” das partes e que não teve mais contactos com Alexandra Reis, só sabendo da mudança para a NAV da antiga administradora através da comunicação social. “Não falei diretamente com Alexandra Reis”, admitiu. Mais tarde, em resposta à deputada do BE, Mariana Mortágua, a CEO da TAP confirmaria que foi a SRS Advogados, sociedade de Pedro Rebelo de Sousa, irmão do Presidente da República, que participou nas negociações. “É um processo complexo e, quando assim é, é necessário recrutar especialistas externos que nos possam ajudar”, referiu, acrescentando tratar-se de “consultores externos que conhecem bem a empresa”.
Já em relação à indeminização de 500 mil euros paga a Alexandra Reis, a presidente executiva da TAP confirmou que o chairman da transportadora aérea, Manuel Beja, foi “informado desta última proposta” entre as partes, e voltou a reforçar que este dirigente também “manteve contactos” sobre este assunto com o [então] secretário de Estado das Infraestruturas [Hugo Santos Mendes]”. “Tudo isto passou pelo secretário de Estado das Infraestruturas”, sublinhou.
“Vamos aceitar e cumprir todos os resultados da investigação”
O facto de a Procuradoria-Geral da República já ter aberto um inquérito ao caso da TAP não parece ‘tirar o sono’. Christine Ourmières-Widener diz, apenas, que “não pode aquilatar da legalidade do processo” e que “é por isso que há um inquérito”.
A CEO da TAP referiu, porém, que vai “acompanhar esta investigação e aceitar e cumprir todos os resultados sejam eles quais forem”, voltando a insistir que “teve o aval de Hugo Santos Mendes” e que “presumiu que esta era uma solução coordenada pelo Ministério das Finanças”.
Por responder – apesar da insistência dos representantes dos partidos da oposição –, ficaram dúvidas sobre o texto da comunicação da saída de Alexandra Reis à CMVM, que referiu que foi a administradora quem decidiu “encerrar este capítulo da sua vida profissional e abraçando agora novos desafios”, o que, à partida, não lhe daria direito a qualquer indemnização. A TAP mentiu ao mercado? Alexandra Reis recebeu indevidamente a indemnização? Christine Ourmières-Widener remete respostas para o acordo estabelecido pelos advogados das partes; e para o inquérito em curso.