A reorganização do governo após a atribulada demissão do executivo de Pedro Nuno Santos – na sequência da polémica em torno da saída de Alexandra Reis da TAP e da contratação subsequente para a NAV e entrada no governo – resultou na divisão do anterior Ministério das Infraestruturas e da Habitação em dois separados. Para liderá-los, António Costa escolheu dois rostos jovens ligados à “máquina” do Partido Socialista: João Galamba substitui Pedro Nuno Santos na pasta das Infraestruturas e Marina Gonçalves, até agora secretária de Estado da Habitação, fica à frente do novo ministério da Habitação.
A proposta do primeiro-ministro para a criação de novos ministérios e a nomeação destes nomes já recebeu aval positivo de Marcelo Rebelo de Sousa. “O Presidente da República aceitou a proposta do primeiro-Ministro da criação do Ministério das Infraestruturas e do Ministério da Habitação, por divisão do Ministério das Infraestruturas e da Habitação, e aceitou a proposta do Primeiro-Ministro de nomeação de João Saldanha de Azevedo Galamba, como Ministro das Infraestruturas, e de Marina Sola Gonçalves, como Ministra da Habitação”, lê-se na nota publicada no site da Presidência da República.
Galamba: sempre de braço dado com a polémica
António Costa estará, certamente, avisado que a escolha por João Galamba pode não garantir, à partida, tranquilidade nesta transição. O anterior secretário de Estado do Ambiente e da Energia já fez correr rios de tinta depois de se ter envolvido numa série de polémicas online, caracterizadas por insultos disparados contra utilizadores e até jornalistas na rede social Twitter. Em maio de 2021, o agora ministro das Infraestruturas descreveu naquela rede social como “estrume” e “coisa asquerosa” o programa Sexta às 9, da RTP 1, conduzido por Sandra Felgueiras, acabando por apagar o comentário na sequência da visibilidade dada à polémica.
Outra polémica, surgiu no final de 2020 quando o seu nome – juntamente com o do, à época, ministro da Economia, Pedro Siza Vieira – se viu envolvido numa investigação da Procuradoria-Geral da República por causa de um projeto de hidrogénio verde em Sines, que não teve ainda arguidos constituídos.
João Galamba nasceu em Lisboa, em 1976 (46 anos). Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, João Galamba concluiu doutoramento em Ciência Política na London School of Economics, tendo lecionado Filosofia Política no departamento de Government daquela instituição.
Trabalhou no Banco Santander de Negócios, na consultora DiamondCluster International, na Presidência portuguesa do Conselho da União Europeia e na Unidade de Missão para os Cuidados Continuados Integrados.
Na política, chegou ao parlamento em 2009, permanecendo no hemiclo nos dez anos seguintes – foi coordenador dos deputados do PS na comissão de Orçamento e Finanças e vice-presidente do Grupo Parlamentar socialista.
Foi convidado para integrar o segundo governo de António Costa (entre 2019 e 2022) como secretário de Estado Adjunto e da Energia, pasta que manteve depois das legislativas de 30 de janeiro de 2022.
Marina Gonçalves: a jovem advogada de Caminha
A nova ministra da Habitação, Marina Gonçalves, entrou no governo pela “mão” de Pedro Nuno Santos, que, em 2015, apostou nesta jovem advogada minhota, então com 27 anos, para a sua equipa. Quando assumiu o cargo de ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos confiou-lhe a pasta da habitação. A criação de um novo ministério para o setor e a sua nomeação como ministra são vistos como uma continuidade na aposta de António Costa na política pública de habitação.
Nascida em Caminha, em 1988 (34 anos), Marina Gonçalves é licenciada em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade do Porto e mestre em Direito Administrativo pela mesma instituição.
Exerceu a atividade de advocacia, primeiro como advogada-estagiária e depois como advogada, até novembro de 2015, momento em que iniciou funções no primeiro governo de António Costa, como assessora do gabinete do secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos. No período que antecedeu o início de funções na secretaria de Estado, exerceu também funções como assessora do grupo parlamentar do PS.
Entre março de 2018 e outubro de 2019, desempenhou funções de chefe do gabinete de Pedro Nuno Santos, primeiro nos Assuntos Parlamentares e depois já no gabinete ministerial das Infraestruturas e da Habitação.
Desde 26 de outubro de 2019, desempenhou funções como deputada pelo círculo eleitoral de Viana do Castelo, integrando, como efetiva, a comissão de Trabalho e Segurança Social e a comissão Eventual de Inquérito Parlamentar à Atuação do Estado na Atribuição de Apoios na sequência dos incêndios de 2017 na zona do Pinhal Interior, e, como suplente, a comissão de Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação e a comissão de Orçamento e Finanças. Foi também vice-presidente do grupo parlamentar socialista, onde acompanhou as áreas da habitação, do trabalho e da segurança social.
Em 2020, deixa a Assembleia da República para assumir o cargo de secretária de Estado da Habitação (substituindo Ana Pinho, que saiu por motivos pessoais), cargo que manteve após as eleições de 30 de janeiro de 2022. Agora, chegou a vez de ter o seu próprio ministério.