Nesta tarde de 10 de março, um dos últimos dias verdadeiramente chuvosos de 2022, uma plateia maioritariamente constituída por jovens universitários olha para o ecrã gigante montado no maior dos salões da Sociedade de Geografia, com sede num velho edifício na Baixa Pombalina, em Lisboa. Um ancião de ar tranquilo, visivelmente “carcomido” pelo tempo mas de olhar ainda vivo e eloquência que só a debilidade da voz consegue trair, parece saltar de uma outra época para nos dar lições sobre a nossa. Aos 99 anos, Adriano José Alves Moreira, um “rapaz” do tempo do cinema mudo, olha para a câmara de um computador pessoal e fala-nos por Zoom. À frente, o seu público de sempre: os alunos e a academia. Neste evento, ele é coapresentador de um livro de Ciência Política sobre os populismos, lançado por um dos seus discípulos mais diletos, também ele professor universitário e uma espécie de “guarda-livros” da extensa bibliografia do velho professor. José Filipe Pinto, politólogo, docente da Lusófona, especialista no estudo dos populismos europeus (e não só), fala-nos das duas peças “de museu” que recentemente manuseou: os dois primeiros artigos conhecidos, publicados por um então jovem académico no Jornal do Foro. O primeiro, de 1943, versa sobre o tema da “Extraterritorialidade de Leis e Sentenças”, numa “Nota Crítica” sobre o professor espanhol Lorenzo Herrera Mendoza. E assim iniciava Adriano Moreira uma longa carreira de autor de artigos científicos, livros e manuais sofregamente consumidos, nas décadas seguintes, por universidades dos dois lados do Atlântico (a seguir ao 25 de Abril, no período de autoexílio, ensinou na Universidade Pontifícia Católica do Rio de Janeiro, tendo ali publicado obra de referência).
Basílio Horta, presidente da Câmara Municipal de Sintra, independente eleito pelo PS, ex-dirigente do CDS e um dos quatro deputados eleitos pelo chamado “partido do Táxi” em 1987 – os outros eram, precisamente, Adriano Moreira, Lucas Pires e Nogueira de Brito –, destaca o seu manual Ciência Política (1979), que considera “incontornável” para os que se dedicam a esta área.