A expressão Operação Marosca é hoje praticamente desconhecida, mas foi com este nome de código um tanto ou quanto patusco que, a 16 de dezembro de 1972, a 6ª Companhia de Comandos de Moçambique perpetrou, na região de Tete, o que viria a ser conhecido, pela posteridade, como “o massacre de Wiriyamu”, matando perto de 400 civis inocentes. Pouco antes, a 12 de outubro, em Lisboa, apenas um morto, o ativista estudantil, José Ribeiro Santos, assassinado à luz do dia pela polícia política, a PIDE-DGS, já servira para fazer cair a máscara da suposta Primavera Marcelista. Esta “estação política primaveril” tinha sido um tempo de esperança com que o então presidente do Conselho (primeiro-ministro) Marcelo Caetano, que, em 1968, substituíra o ditador Oliveira Salazar, parecia querer mudar o regime, encaminhando-o para uma transição democrática pacífica. Procurando dar um sinal das suas boas intenções, nas eleições (controladas…) de 1969, Caetano havia integrado, nas listas da ANP (Ação Nacional Popular, nova designação do partido único de Salazar, a União Nacional), um grupo de jovens quadros, muitos dos quais seus ex-alunos, com ideias de uma transformação política. Era a chamada “Ala Liberal”. Nesse ano de 1972, a Ala Liberal produzira o maior número de projetos de lei da sua curta existência, todos chumbados pelos pares, deputados e bonzos ultradireitistas da Assembleia Nacional. Os “jovens turcos” pretendiam preparar o regime para eleições realmente livres, em 1973, e o ano anterior fora decisivo para se perceber se as intenções de Marcelo Caetano eram genuínas – ou se, pelo contrário, eram apenas uma operação de cosmética. Os acontecimentos violentos de 1972, Wiriyamu e Ribeiro Santos, serviram, assim, como lembretes que contribuíram para a urgência de uma rutura. E foram vários os episódios que definiram 1972 como um ano de viragem, tal como veremos já a seguir.
A queda da máscara