A divulgação da contratação de Sérgio Figueiredo, ex-diretor de informação da TVI, pelo Ministério das Finanças, como consultor estratégico para fazer a avaliação e monotorização do impacto das políticas públicas, continua a fazer estremecer um País político em férias. A notícia, avançada na edição desta terça-feira do Público, adianta que o antigo jornalista e administrador da Fundação EDP já terá começado a exercer funções no passado dia 29 de julho, mas o contrato, com a duração de dois anos, deverá ser confirmado, em breve, com a publicação no portal Base – Sérgio Figueiredo terá um ordenado equiparado ao vencimento mensal base (ilíquido) dos ministros: de 4.767 euros/mês.
Recorde-se que Fernando Medina foi contratado pela TVI quando o mesmo Sérgio Figueiredo liderava a direção de informação do canal de Queluz de Baixo – entre 2015 e 2020 –, tendo sido criado, durante este período, um espaço de comentário político para o agora titular da pasta das Finanças.
Vários políticos e partidos da oposição foram lestos a reagir à polémica, mas as palavras mais contundentes surgem de João Paulo Batalha, ex-presidente da Associação Transparência e Integridade e atual dirigente da Associação Frente Cívica, que, contactado pela VISÃO, não tem dúvidas em afirmar que “estamos perante uma troca de avenças”. “Mesmo que não tenha sido premeditada ou combinada, o facto é que Sérgio Figueiredo, quando era diretor de informação da TVI criou um espaço de comentário pago para Fernando Medina, que não só lhe garantiu rendimentos, mas também visibilidade pública e política. Agora, é hora do atual ministro das Finanças retribuir com esta contratação. Não significa isto que este negócio tenha sido premeditado, mas nota-se que existe uma relação de simpatia entre estas duas pessoas no sentido de assegurarem a carreira e o bem-estar um do outro”, acrecesta.
O mesmo João Paulo Batalha coloca também dúvidas na missão de Sérgio Figueiredo no Ministério das Finanças. De acordo com o currículo do ex-diretor da TVI, o dirigente da Associação Frente Cívica não tem dúvidas em afirmar que estamos perante uma estratégia política de Fernando Medina que “mostra uma cultura de colocar as pessoas à frente das instituições”. “A suspeita que fica é que Sérgio Figueiredo vai ser o ‘lobista’ pessoal de Fernando Medina. O ministro das Finanças vem de uma derrota política inesperada [nas Autárquicas de Lisboa], como ministro das Finanças tem pouco espaço para brilhar politicamente e, portanto, contratou alguém que conhece bem a comunicação e a comunicação social para tratar da sua personalidade pública e tentar criar uma imagem que lhe permita, em eleições futuras, apresentar-se como sucessor de António Costa no partido e no Governo”, diz, lamentando que “tudo isto esteja a ser pago com o dinheiro dos contribuintes”.
Segundo o despacho, publicado na 2.ª feira, o Ministério das Finanças confirma que “está a promover um procedimento para a aquisição de serviços de consultoria estratégica especializada ao Ministério das Finanças, na qual se inclui a auscultação dos stakeholders relevantes na economia portuguesa, no âmbito da definição, implementação e acompanhamento de políticas públicas e medidas a executar, da avaliação e monitorização dessas políticas, tendo presente as atribuições legalmente atribuídas ao Ministério das Finanças, e, bem assim, o aconselhamento nos processos internos de tomada de decisão”.
Sérgio Figueiredo, 56 anos, é o nome já confirmado à comunicação social, por fonte oficial do gabinete de Fernando Medina. Licenciado em Economia pelo ISEG, foi jornalista em diversas publicações, tendo ocupado o cargo de diretor do Diário Económico (entre 1996 e 2001), Jornal de Negócios (de 2002 a 2007) e diretor de informação da TVI (2015 a 2020). Entre 2007 e 2014, liderou a Fundação EDP. Exercia, desde 2020, as funções de consultor de sustentabilidade freelance.
Críticas multiplicam-se
Da esquerda à direita, ao longo do dia multiplicaram-se as reações da oposição na sequência desta notícia. Duarte Pacheco, deputado do PSD, defendeu, em declarações à TSF, que este é um exemplo da relação promíscua entre Governo e PS, num caso de “defendem-me hoje e eu trato da tua vida amanhã”.
O presidente do Chega, André Ventura reagiu, em conferência de imprensa, realizada na sede do partido, exigindo que este episódio seja “explicado do ponto de vista da transparência, sobretudo da transparência política e do ponto de vista da transparência da relação do Governo com a imprensa em geral”. Entretanto, na sequência deste caso, o Chega anunciou que já deu entrada na Assembleia da República um requerimento para ouvir as explicações do ministro das Finanças, Fernando Medina.
O líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares, considerou que “a contratação de Sérgio Figueiredo é absolutamente criticável”, acusando o ministro das Finanças, Fernando Medina, de “pagar uma avença ao amigo que já lha pagou na TVI”, escreveu o Twitter.
O deputado Carlos Guimarães Pinto, da Iniciativa Liberal, também reagiu no Twitter. “O Governo envia um sinal para os responsáveis dos órgãos de comunicação social. Um sinal de gratidão, é verdade, mas péssimo para a democracia e para a forma como os portugueses olham para a imprensa”, escreveu naquela rede social.