A Polícia Judiciária desencadeou, na manhã desta quinta-feira, uma nova operação de buscas relacionada com a investigação à emissão de certificados de descendência sefardita emitidos pela comunidade judaica do Porto. Segundo informações recolhidas pela VISÃO, os inspetores da Unidade Nacional Contra a Corrupção e da Diretoria do Norte da PJ realizaram buscas em residências e num escritório de advogados, procurado documentos que possam estar ligados ao caso, sobretudo relacionados com a certificação de descendência sefardita que permite obter a nacionalidade portuguesa. Em causa estão eventuais crimes de falsificação de documentos, corrupção, tráfico de influências, falsificação de documento, branqueamento de capitais, fraude fiscal qualificada e associação criminosa.
Dois dos casos em investigação são o do cidadão russo Roman Abramocivh, multimilionário e antigo dono do Chelsea, e de Patrick Drahi, presidente do grupo Altice. Em março deste ano, a Polícia Judiciária (PJ) deteve Daniel Litvak, o rabino da Comunidade Israelita do Porto, e responsável pela certificação como descendente sefardita que veio a permitir a Roman Abramovich obter a nacionalidade portuguesa. As buscas envolveram vários membros da direção daquela comunidade, como o advogado Francisco Almeida Garret, e Daniel Litvak.
A detenção ocorreu quando o rabino se preparava para viajar para Israel. Daniel Litvak foi interrogado “durante duas horas” e acabou por lhe ver aplicada a medida de coação de Termo de Identidade e Residência (TIR), bem como a entrega de passaporte.
Na sequência desta operação, a Comunidade Israelita do Porto emitiu um comunidado, no qual confirmou a realização de buscas a vários membros da direção após “denúncias anónimas”. “Membros da direção (…) foram alvos de buscas e um deles foi indiciado dos crimes de tráfico de influência (a denúncia afirma que foi o autor da lei dos sefarditas de 2013), fraude fiscal e branqueamento (a denúncia afirma que existem desvios de fundos não declarados e que são branqueados) e falsificação de documentos (a denúncia afirma que os pareceres do rabino são falsos e que o jurista da direção devia saber)”, referiu o documento.
Na mesma nota, a comunidade judaica referiu que tais denúncias vão ser “rebatidas documentadamente ponto a ponto” e que as buscas foram essencialmente movidas por “dois casos”: Roman Abramovich, certificado com nacionalidade portuguesa pelo rabinato do Porto, a 16 de julho de 2020, dado cumprir os critérios plasmados na lei e aceites pelos sucessivos governos desde 2015.
No que diz respeito a Patrick Drahi, certificado pela Comunidade Israelita de Lisboa em 2017, dado cumprir os critérios plasmados na lei e aceites pelos sucessivos governos desde 2015, referiu a nota da comunidade judaica, na mesma nota.
A Comunidade Judaica do Porto inclui cerca de 700 judeus de mais de 30 países. Judeus sefarditas são judeus originários da Península Ibérica, expulsos de Portugal no século XVI. A Procuradoria-Geral da República em Portugal confirmou a 19 de janeiro que a concessão da nacionalidade portuguesa ao empresário russo Roman Abramovich ao abrigo da Lei da Nacionalidade para os judeus sefarditas estava a ser alvo duma investigação.