A azáfama é grande na porta de embarque número 45 do Terminal A do Aeroporto Humberto Delgado. Apesar deste ser um voo comercial supostamente normal, os passageiros tiveram uma visita inesperada: o Presidente da República. A pintura na aeronave denunciava que este TP075 é, afinal, também um voo histórico. Marcelo Rebelo de Sousa marca presença para o voo comemorativo do centenário da primeira travessia aérea do Atlântico Sul, um feito conseguido por Gago Coutinho e Sacadura Cabral a bordo do “Santa Cruz”.
Luzes, câmaras, microfones e muitos jornalistas enchem o lounge improvisado, decorado com fotografias de época dos heróis aviadores e do avião a hélices que fez esta primeira viagem. Dentro de minutos começaria a ligação entre Lisboa e o Rio de Janeiro, mas desta vez bem mais rápida do que em 1922.
“Este voo mostra que a TAP está a cumprir uma missão nacional”, diz Marcelo Rebelo de Sousa, dirigindo-se para o povo, ou seja, os passageiros admirados com a cerimónia.
“O tempo mudou, as companhias de aviação estão em concorrência umas com as outras, mas os portugueses aceitam contribuir financeiramente para a TAP porque ela, de quando em vez, tem a obrigação de cumprir o interesse nacional”, explica o Presidente da República, ladeado do Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, e do secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, Francisco André.
“Enquanto cumprir estas missões nacionais, eu arranjo maneira de explicar aos portugueses que eles têm de ir contribuindo para a TAP”, afirma. “E uma das missões mais importantes é ligar as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, como a importante comunidade que existe no Brasil.”
A viagem ainda não tinha começado, e já estava, porém, envolta em polémica. Estava agendado uma audiência e um almoço oficial com Jair Bolsonaro, em Brasília, mas este fez saber pelos média que não iria acontecer. Tudo por causa de uma reunião que Marcelo Rebelo de Sousa também tinha agendada com Lula da Silva, candidato a Presidente nas próximas eleições. Lula será recebido domingo no Consulado Geral de Portugal, em São Paulo, onde decorre a 26.ª Bienal Internacional do Livro em que o país convidado é Portugal.
Nada que incomode o Presidente da República português, que na noite de sexta-feira ainda não tinha sido oficialmente desconvocado. “Respeito se quem convida deixa de convidar”, afirmou aos jornalistas, descomplicando o que é um incidente diplomático entre países, supostamente irmãos. “Os que servem têm de perceber que os povos perduram. Os povos continuam, os almoços podem mudar”, diz com fina acidez. “Não podemos perder um segundo com um almoço.”
Assunto arrumado, e a CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, que marcou esta semana um ano em funções, dá as boas-vindas aos passageiros da comitiva presidencial e aos restantes, num português esforçado. E a viagem continua até ao Rio de Janeiro, onde o programa oficial vai prosseguir dentro de momentos, com Lula e sem Bolsonaro.
