A intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa em socorro de Marta Temido foi decisiva para que a ministra tenha uma nova oportunidade de recuperar algum do capital político ganho com a gestão da pandemia – e perdido, em poucos dias, com a falência dos serviços de obstetrícia e de outras urgências hospitalares, durante o período dos feriados de junho. “O problema não é da pessoa A, da pessoa B ou da pessoa C, nem sequer de um governo, deste ou de outro. O problema de fundo é estrutural, não é de um governo.” As palavras de Marcelo – insuspeito, por já ter, uma vez, posto em xeque a ministra (durante a crise da falta de vacinas contra a gripe) – colocaram água na fervura e descansaram António Costa, para quem seria muito complicado, escassos dois meses depois da tomada de posse, pensar numa remodelação. Algo surpreendido, o primeiro-ministro viu, no aval de Belém à ministra, menos uma frente de combate político. Como ficou demonstrado em episódios anteriores, com Constança Urbano de Sousa, Eduardo Cabrita – e, até, João Gomes Cravinho, que teve de mudar de pasta… –, as críticas do Presidente a um ministro são uma fonte de desgaste permanente, por colocarem na agenda mediática a vigilância presidencial sobre o visado. Por isso, a intervenção de Marcelo, neste caso, foi entendida, em São Bento, como um balão de oxigénio para a ministra e para o Governo.
Em todo o caso, segundo a VISÃO apurou, o primeiro-ministro tem já um plano B, para o lugar de Marta Temido, que só usará se for necessário e o mais tarde possível, por não abundarem, na órbita do PS, os nomes com perfil para tomar conta do delicado ministério: nada mais, nada menos do que Fernando Araújo, presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar Universitário de São João (Hospital de São João, do Porto), considerado, dentro do SNS, uma unidade exemplar e cujo modelo Marta Temido procura agora “copiar”, para aplicação noutras unidades do País. O nome de Fernando Araújo, como a VISÃO oportunamente noticiou, chegou a ser referido para ministro da Saúde deste Governo. Mas o peso entretanto adquirido por Marta Temido, durante a pandemia, descansou o primeiro-ministro, que terá preferido guardar aquele trunfo para “uma necessidade”.