Oito meses após ter sido constituída (12 de julho de 2016) a sociedade anónima “Quimera Inadiável” viu a Câmara Municipal de Cascais a ceder-lhe o “direito de superfície” de uma parcela de terreno com pouco mais de 5 mil m2, “destinada à construção de uma unidade de cuidados continuados” por um período de 50 anos, prorrogáveis por mais 10, em São Domingos de Rana. Segundo o Boletim Municipal, a proposta, apresentada pelo executivo municipal, foi aprovada por maioria na reunião de Câmara de 13 de março de 2017, com os votos contra dos então vereadores do PS João Cordeiro, Alexandre Sargento e Maria Teresa Gago e ainda do vereador do PCP, Clemente Alves. Maria Isabel Magalhães, representante do movimento “Ser Cascais” absteve-se.
É este negócio que está a ser investigado no Ministério Público da comarca de Lisboa Oeste e que levou, esta quarta-feira, a Polícia Judiciária e o procurador Rui Real a fazerem buscas, esta quarta-feira, na autarquia liderada por Carlos Carreiras. Após a VISÃO ter noticiado a realização da diligência, a Câmara de Cascais referiu apenas ter cooperado “em diligências de órgão de polícia criminal efetuadas esta manhã em instalações municipais. Como vem sendo habitual ao longo dos anos, a autarquia manifestou toda a disponibilidade para colaborar com as autoridades tendo em vista o cabal esclarecimento da matéria em investigação”.
De acordo com dados recolhidos pela VISÃO, a empresa em causa tem iniciou a atividade com um administrador único: João André Matos Pereira, o mesmo que, em junho de 2017, assinou com Carlos Carreiras o protocolo para a cedência de terrenos, em nome da “Quimera Saúde”. Na cerimónia, Matos Pereira referiu que a nova unidade seria “uma resposta à necessidade de serviços continuados, estimada em cerca de 100 camas de média e longa duração, e ajudará a colmatar uma outra lacuna na área da saúde, a carência de residências séniores, onde as soluções existentes respondem ainda só a 33% das necessidades do concelho”.
Em outubro de 2020, José Maria Afonso Guerreiro assumiu um lugar no conselho de administração da empresa, cuja metade do capital social (50 mil euros) é detida pela “B.P. Compra, Venda e Administração de Imóveis, SA”, a que aquele está ligado. O restante capital, segundo informações da consultor D&B, pertence à “Baú Financeiro, Investimentos Imobiliários e Participações Financeiras”, da qual João André Matos Pereira é vogal da administração.
Durante o mês de abril do ano passado, Carlos Carreira visitou as obras da Unidade de Saúde Sénior, declarando que o investimento “já era uma grande necessidade, não só em Cascais, mas no País” antes da pandemia da Covid-19.” São equipamentos que são absolutamente fundamentais e que vão ser ainda mais precisos,” concluiu.