É frequente dizer-se que o 25 de Novembro de 1975 pôs o País nos trilhos e abriu a porta à “normalização democrática”. Mas Rosinda Teixeira não viveu para sabê-lo. Assassinada a 21 de maio de 1976, em São Martinho do Campo (Santo Tirso), a vítima mortal da chamada “rede bombista” de extrema-direita deverá dar nome, ainda este ano, a uma rua do município.
A proposta foi oficializada pelo Bloco de Esquerda (BE) na assembleia municipal da última quarta, 22, e embora rejeitada na ocasião pela maioria socialista, terá luz verde por parte do executivo: “Opusemo-nos na reunião apenas pelo facto de querermos incluir o nome no âmbito de uma revisão geral da toponímia do concelho que, de resto, já foi anunciada pelo presidente de câmara. Mas é pacífica a decisão de atribuir o nome da Rosinda Teixeira a uma rua e isso deverá acontecer em breve, talvez no espaço de alguns meses”, explicou à VISÃO, José Dias, líder da bancada do PS naquele órgão autárquico. Quando este processo estiver concluído, também o militar de Abril, Salgueiro Maia, terá o seu nome associado a uma artéria da cidade, na sequência de promessa solene do presidente da autarquia, Alberto Costa.
Lembrar vítimas do extremismo
O BE sugeriu o nome de Rosinda Teixeira para substituir o de Oliveira Salazar na única rua que ainda leva a referência ao ditador, situada no território da União de Freguesias de Santo Tirso, Couto (Santa Cristina e São Miguel) e Burgães. “Mas não fazemos finca-pé que seja nessa zona. O importante é que a Rosinda Teixeira tenha uma rua central no município, em homenagem a todos os quantos foram vítimas da extrema-direita a seguir ao 25 de Abril, e que o nome de Salazar seja eliminado de vez da toponímia”, esclarece Ana Isabel Silva, dirigente do BE e deputada municipal em Santo Tirso. A homenagem a Rosinda Teixeira, uma batalha antiga do Bloco, serviria também, explica, “para dignificar a presença de mulheres na nossa toponímia, que continua claramente desvalorizado”.
A memória do atentado bombista que matou Rosinda Teixeira foi já objeto de homenagem na atual freguesia de Vila Nova do Campo, em 2017, tendo sido descerrada uma placa junto ao local onde a mulher do operário têxtil e sindicalista António Teixeira – que seria o alvo da ação criminosa – foi assassinada. Três operacionais da rede bombista de extrema-direita, entre eles Ramiro Moreira, ligado ao Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP) e responsável por dezenas de assaltos e atentados no pós-revolução, foram os autores do assassínio. Do mesmo, no entanto, nunca se conheceram os mandantes. As suspeitas recaíram sempre no antigo industrial Abílio de Oliveira, o “Batateiro”, que mantinha conflitos com a família Teixeira e foi um dos financiadores do MDLP e das organizações extremistas que se propunham, diziam, “libertar Portugal do comunismo”. Apesar de formalmente extinto na sequência do golpe de 25 de Novembro de 1975, o MDLP e vários dos elementos que atuavam em seu nome foram associados aos atentados mortais do padre Max e Maria de Lurdes, em Vila Real, e de dois funcionários diplomáticos da Embaixada de Cuba, em Lisboa, todos ocorridos em 1976. Rosinda Teixeira foi uma das vítimas desse período e deixou quatro filhos.