E se o anúncio da ida de António Costa à Ucrânia não tivesse sido um deslize de Marcelo, mas sim uma declaração premeditada, para criar uma dificuldade ao primeiro-ministro? Esta teoria da conspiração ganhou alguma tração junto de meios próximos de António Costa. Ao revelar o timing da visita de Costa a Kiev, Marcelo estaria a vingar-se de episódios em que a informação lhe fora sonegada, nos últimos meses, desde a substituição de Mendes Calado por Gouveia e Melo, na chefia da Marinha, à lista do elenco governativo, escarrapachada na comunicação social. “Não deixa de ser uma coincidência feliz que, na altura em que o primeiro-ministro vai à Roménia, à Polónia e à Ucrânia, em plena guerra, sempre com uma visão de paz, nós celebremos com os irmãos timorenses aquilo que são 20 anos, já – o tempo passou a correr – de paz, de liberdade de desenvolvimento económico e social.” Esta declaração, deixada cair por Marcelo, distraidamente, a caminho de Díli, fazia ruir toda a estratégia de segredo, motivada por razões de segurança, em torno de uma viagem do primeiro-ministro que tinha sido anunciada, apenas, para os dois primeiros países. Segundo apurou a VISÃO, a intenção de São Bento era anunciar a presença em Kiev no último momento, quando António Costa já estivesse a pisar solo ucraniano, seguindo o protocolo de outros chefes de Estado e de governo europeus que já tinham sido recebidos pelo Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Confrontado com o anúncio presidencial, e instado a revelar o momento exato da chegada a Kiev, Costa ainda tentou manter o guião, sustentando uma espécie de charada: “Irei a Kiev no dia em que lá chegar…”