Nos últimos dias, o PCP tem sido confrontado com a debandada de muitos militantes, desiludidos com a posição do partido, face à invasão da Ucrânia pela Rússia. Apesar do ligeiro recentramento operado por Jerónimo de Sousa, no discurso que assinalou os 101 anos do partido, em que recusa qualquer associação com Vladimir Putin, os argumentos continuam a seguir, a par e passo, a narrativa russa: a culpa da guerra deve-se à agressividade do Ocidente e ao avanço da NATO para Leste, serve “o complexo militar-industrial” dos EUA e segue-se ao “golpe de Estado promovido pelos EUA” na Ucrânia, em 2014 – o que faz tábua rasa do voto popular pelo qual o Presidente Volodymyr Zelensky foi eleito. Segundo o relato de um militante comunista à VISÃO, “enquanto uns batem com a porta, outros tentam explicar à direção do partido a necessidade de uma alteração de posições, nem que para isso seja necessário um congresso extraordinário. Até agora, não temos tido qualquer sucesso”.
Ora, qualquer mudança de posição dos comunistas deve ser aprovada em congresso, já que foi em congresso que o PCP aprovou as teses que distinguem a Rússia como um dos países que podem fazer frente ao “imperialismo”. No XXI Congresso do PCP, realizado em novembro de 2020, foi aprovado um documento com um importante capítulo dedicado à situação internacional. Nele se elogia “o desenvolvimento de um complexo processo de arrumação de forças a nível mundial, que tem como traços dominantes o declínio relativo da influência mundial do centro capitalista, e em primeiro lugar dos EUA, os avanços económicos e científico-técnicos e a afirmação no plano internacional da China, assim como o papel de Estados, como a Índia e a Rússia (…)”.