Passem os anos que passarem, Leonor Xavier não se lembra de ter estado tanto tempo sem levar a cabo uma das suas tarefas mais importantes nas mais de quatro décadas como dirigente do PCP: o contacto direto com a população em Avis, para distribuição de propaganda e auscultação do sentimento popular. A pandemia boicotou aquela que provou há muito ser uma das melhores formas de o partido comunicar; e, nos três meses que se seguiram ao chumbo controverso da proposta orçamental para 2022, essa foi uma das maiores lacunas sentidas nos bastiões em que, pela primeira vez, como aconteceu naquela pequena vila do Norte alentejano, os comunistas perderam umas legislativas para o PS. Os dirigentes locais admitem abertamente que – entre outras falhas que não têm qualquer prurido em apontar – a fuga do voto útil para os socialistas foi igualmente um rude golpe, que ditou a perda do líder parlamentar João Oliveira, mas afastam determinantemente um cenário, no futuro, de definhamento do partido. Porém, perante o pior resultado de sempre da CDU numa corrida à Assembleia da República, quem estuda as dinâmicas do voto comunista alerta para o facto de se estar perante uma erosão eleitoral difícil de travar. Mais: no seio da máquina da Soeiro Pereira Gomes, há quem fale de uma certa turbulência de fundo, iniciada em meados de 2017, ao ponto de ter motivado afastamentos dos críticos do acordo com António Costa, o que pode acelerar a sucessão de Jerónimo de Sousa.
Pelo Couço, o enormíssimo Centro de Trabalho do PCP ainda não abriu portas para a comissão local do partido da freguesia do concelho de Coruche poder analisar o desaire no distrito de Santarém, o qual culminou na não eleição do histórico deputado António Filipe, e a estreia no Parlamento de um dirigente do Chega como representante daquele círculo. Vários dias após a noite negra que trouxe várias surpresas à Soeiro Pereira Gomes, entre as quais o desaparecimento dos Verdes do hemiciclo, os comunistas daquela localidade, que é membro da Ordem da Liberdade – por, graças aos protestos das suas gentes agrícolas durante o século XX, ter contribuído para o estabelecimento das oito horas de trabalho no País –, recusam precipitar-se em ilações.