Ao fim de quatro anos de mandato, o ministro da Administração Interna demitiu-se devido à polémica que envolve o acidente com o carro onde seguia na A6, a 18 de junho. A declaração foi feita esta sexta-feira, sem direito a perguntas dos jornalistas, depois de ter sido conhecida a acusação ao motorista do governante pelo Ministério Público de Évora.
Invocando a “solidariedade do primeiro-ministro” em relação a uma alegada perseguição política motivada por este caso, Cabrita justificou com isso o facto de ser ter mantido ao longo dos últimos seis meses no cargo – no que classificou como “um verão difícil”. “Não podendo admitir um aproveitamento político intolerável” do acusação agora conhecida, “para não penalizar a ação do Governo, o primeiro-ministro ou mesmo contra o PS”, Cabrita anunciou que pediu a demissão: “entendi solicitar hoje a exoneração das minhas funções de ministro da Administração Interna ao primeiro-ministro”.
“Grande sacrifício” nos últimos seis meses
No arranque da declaração, o socialista deu logo um sinal que estaria de malas feitas para sair do Governo, ao puxar pelos galões, começando por fazer um balanço da sua passagem pela Administração Interna desde que entrou para suceder a Constança Urbana de Sousa, cuja saída do ministério ocorreu devido às tragédias dos incêndios de junho e outubro de 2017.
Sendo que, feita a defesa do mandato, lembrou que o carro conduzido pelo seu motoristas “foi vítima de um acidente” que matou Nuno Santos. “No dia 18 de junho, a viatura que me transportava foi vítima de um acidente no qual se viu envolvida e que tragicamente determinou a perda de um vida. Mais do que ninguém lamento essa trágica perda irreparável”, salientou.
“Desde então, foi com grande sacrifício pessoal que verifiquei com estupefação o aproveitamento político que foi feito de uma tragédia pessoal e o quanto se pedia que [eu] fizesse o que não poderia fazer, porque seria sempre interpretado, qualquer que fosse a resposta, como uma interferência num processo”, alegou, dizendo que ninguém entenderia que andasse a falar no assunto.
“Só a lealdade e os tempos que enfrentávamos há seis meses, só a solidariedade do primeiro-ministro, determinaram a prosseguir no exercício destas funções neste verão tão difícil”, adiantou, criticando “o aproveitamento político, absolutamente intolerável” e assegurando que sai para que o mesmo caso não “seja utilizado no atual quadro político” contra a “ação do Governo, contra o primeiro-ministro e mesmo contra o PS”.
Debaixo de fogo após reação matinal
De manhã, numa primeira reação à acusação do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Évora, o ministro agora demissionário sublinhou que era “passageiro” na viatura oficial do Ministério da Administração Interna, que tirou a vida a Nuno Santos, provocando um coro de críticas. Cabrita sublinhou que “o esclarecimento dos factos tem de ser feito”, sem cair num “repugnante aproveitamento político de uma tragédia pessoal”.
“Eu sou passageiro. É o estado de direito a funcionar. Temos de confiar no estado de direito, ninguém está acima da lei”, disse, na manhã desta sexta-feira, aos jornalistas, quando confrontado com o despacho de acusação.
Já ao início da tarde, o DIAP de Évora revelou, numa nota publicada, que “o Ministério Público deduziu acusação, requerendo o julgamento por tribunal singular, contra um arguido, o condutor do veículo automóvel interveniente num acidente de viação ocorrido na A6, no dia 18 de junho de 2021, imputando-lhe a prática, em concurso, de um crime de homicídio por negligência e de duas contraordenações”.
Eduardo Cabrita começou por ser ministro Adjunto de António Costa em 2015 e, dois anos depois, assumiu a pasta da Administração Interna.