“Quando me picam, eu sou melhor. E eu estou picado!”.
Foi desta forma, respondendo a uma pergunta da VISÃO, que Rui Rio justificou o seu otimismo na corrida à liderança do PSD, à qual se recandidata. O anúncio feito ao final da tarde de sexta, 22, numa sala cheia de um hotel de luxo do Porto, não foi uma entrada “a pés juntos”, como se diz na gíria futebolística, mas andou lá perto. “O PSD tem de ser um partido de homens e mulheres livres, não pode ser uma coutada seja de quem for, muito menos de quem, tantas vezes, se move essencialmente pela defesa do seu lugar”.
O atual presidente “laranja” tinha, pois, ele próprio, o cartão vermelho para mostrar a quem, no interior do partido, colocou em causa a unidade. “A marcação do definitiva do nosso congresso, antes mesmo de se saber se o País não terá de enfrentar eleições legislativas antecipadas, constituiu um aventureirismo que a sensatez prudentemente evitaria”, afirmou.
Sem nunca se referir diretamente a Paulo Rangel e confessando que não lhe passava pela cabeça tê-lo como adversário interno neste cenário, Rio acabou por deixar uma tirada mortal para o candidato que ele próprio escolhera para cabeça-de-lista ao Parlamento Europeu. “O adversário que eu tenho teve o pior resultado da história do PSD”, afirmou, minutos depois de devolver a acusação de Rangel de que não foi capaz de agregar. Rio lembrou os convites a Santana Lopes e ao próprio Rangel após as vitórias internas, para além dos convites que fez para as autárquicas a pessoas que não o tinham apoiado. “Quando dizem que eu não quero agregar sabem que é mentira”.
Contra a tendência “autofágica”
Rio esteve estes dias a ponderar se apresentava a sua recandidatura à liderança num momento que se adivinha, segundo ele, de crise política, dadas as incertezas relativas à votação do Orçamento de Estado. Ponderou então “para perceber”, referiu, “se a força necessária para uma coisa destas está cá dentro ou não está cá dentro”. As mensagens e telefonemas recebidos nos últimos dias – “nem sei como conseguiram o número do meu telemóvel” – reforçaram a sua convicção.
O antigo presidente da Câmara do Porto acusou a oposição interna de, “num curto espaço de três semanas”, revelar “uma incompreensível tendência autofágica”. Uma atitude que, na sua opinião, “originou divisões internas que o bom senso aconselharia a evitar, em período tão favorável ao nosso partido”. O presidente do PSD referiu-se a vários sucessos eleitorais, das “regionais” da Madeira às autárquicas, passando pelos Açores, que, no seu entender, criaram uma dinâmica importante para “ganhar as próximas eleições legislativas e substituir a governação socialista que está, hoje, seguramente, bem mais perto de nós”. Com uma renovada imagem gráfica em fundo, onde os dedos do V de vitória surgem associados ao seu nome, Rio crê que “ninguém entenderia” que se furtasse a este combate. Sair, alegou, “seria muito prejudicial para o partido” e “para Portugal”. E não se furta, desde já, a vestir o fato de futuro primeiro-ministro, pois, para ele, o PSD está mais perto de ganhar ao PS e ele não quer ver essa oportunidade “destruída”. E reforçou, falando para dentro: “Não estamos perante a escolha de um bom tribuno, nem de um eficaz angariador de votos partidários. Estamos perante a responsabilidade da escolha de alguém que tenha a capacidade de resiliência, coerência de percurso, experiência e vocação executiva, e inequívocos atributos de liderança”. Rio está, de resto, disponível para debates televisivos com Rangel, caso isso se entenda que isso ajudará a esclarecer o povo social-democrata.
Para os apaniguados, está, pois, de volta o Rui Rio selvagem, indomável e que adora combates difíceis ou quase impossíveis. “Isto é o que ele gosta: partir de trás e picado!”, comentava um dirigente nacional à porta do hotel da Invicta onde se realizou a sessão. Aos aplausos finais da audiência – onde se encontravam dirigentes nacionais como Salvador Malheiro, André Coelho Lima ou David Justino, mas também o provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, António Tavares – o atual líder despediu-se ao som de I Still Standing, de Elton John. E o PSD, dança?