Nem 24 horas depois de ter anunciado no Conselho Nacional do PSD que era candidato à liderança do partido, agora foi a vez de Paulo Rangel falar para fora. No mesmo local onde Passos e Portas apresentaram a coligação do PSD e do CDS, em 2015, no Hotel Myriad, em Lisboa, Paulo Rangel alegou, na tarde desta sexta-feira, que entra na corrida pela cadeira do poder da São Caetano à Lapa, por querer um partido mais “firme, afirmativo, certeiro e consequente na oposição”.
Para isso, é indispensável que regressem os debates quinzenais no Parlamento, onde o PSD possa desmontar as teses de António Costa – a quem desafiou que não deserte nas próximas legislativas e defenda a sua gestão desde 2015. Adiantou que deixará o Parlamento europeu, se for eleito presidente do partido, e mostrou-se disponível para conversas à direita com todos, menos o Chega.
Numa comunicação onde se apresentou sozinho, Rangel começou por apontar que reúne “todas as condições para unir o PSD, para promover o seu crescimento realizando a sua tradicional vocação maioritária e para vencer as eleições legislativas de 2023, com uma solução de governo estável”.
Salientou que é “fundamental que o PSD se perfile de novo como alternativa”, apontando que a “primeira tarefa” será “congregar, juntar, unir” o partido. “Não mais fações, não mais ressentimentos, não mais antagonismos e fixações político-pessoais”, disse. E numa clara alusão às críticas de Rui Rio, que acusou os opositores internos de querer que “berre”, Rangel esclareceu: “Não defendo, em caso algum, uma oposição sistemática, ruidosa ou trauliteira”.
“O PSD tem de ser firme, afirmativo, certeiro e consequente na oposição. Não pode levantar bandeiras e depois, ao fim de semanas, deixar cair na rotina ou no esquecimento o escrutínio dessas suas bandeiras”, disse, sendo que uma armas mais eficazes é o debate quinzenal, que foi substituído por um outro bimensal (ainda que no último ano tenham sido de três em três meses). “Como líder parlamentar que fui, sei bem da importância crucial dos chamados debates quinzenais. Sei bem quão importantes foram os debates quinzenais em 2008-2009 para retirar a maioria absoluta ao PS de José Sócrates nas eleições de 2009”, disse.
Acrescentou que é “absolutamente incompreensível que a liderança atual do PSD tenha, em conivência com o PS, abolido os debates quinzenais e os tenha substituído por umas modalidades suaves, doces, muito espaçadas no tempo e muitas vezes sem comparência do primeiro-ministro”.
Tendo descartado qualquer risco de eleições antecipadas, devido a um eventual chumbo do Orçamento do Estado – que disse acreditar que a esquerda deixará passar -, o social-democrata só perspetiva ir às urnas dentro de dois anos. E escolheu quem quer ter como opositor: “Quando for líder do partido, vou desafiar António Costa a liderar as listas do PS ás eleições legislativas de 2023. Sim, estarei pronto para liderar o partido e ter como adversário qualquer personalidade do PS; mas quero dizer aqui, que o PS de António Costa pode ser derrotado”.
Um PSD conservador e progressista
Rangel apontou que, sendo o PSD “eclético”, porque “soube sempre acolher conservadores e progressistas, zelando pela liberdade de consciência”, o partido não deve correr “atrás do politicamente correto” e evitar o “pensamento único”.
“O nosso modelo é a democracia liberal, e não há que ter vergonha de dizê-lo, a democracia liberal ocidental. O PSD é pela liberdade, mas não é liberal, é, modelando as palavras, liberalizador. Por isso não somos liberais. Somos liberalizadores, libertadores, pela liberdade, mas sempre com o coração no partido na equidade social”, explicou, assumindo que o CDS e a Iniciativa Liberal estão no espectro político das forças com que o PSD deve e pode dialogar – de onde afastou o Chega.
“O Chega não faz parte da direita moderada; e intransponível. Mas essa pergunta deveria ser feita ao PS e a António Costa porque o Chega é o aliado objetivo do PS. Um Chega mais forte permite ao PS perpetuar-se no poder; e nunca ninguém vê essa convergência. O grande interessado que o Chega possa bloquear soluções no centro-direita é o PS”, concluiu.