As promessas de António Costa no início do debate do Estado da Nação, esta quarta-feira, no Parlamento – que foram da vacinação de 570 mil crianças, entre os 12 e o 17 anos, até dia 19 de setembro, mediante aval da Direção Geral da Saúde, até ao investimento de 900 milhões na Educação – não encheram o olho à direita. Mas PSD, CDS, IL e Chega não perderam muito tempo a destrinçar a atuação do Governo durante a pandemia, na economia e na sociedade. A grande exceção foi a defesa das empresas, feita pelos sociais democratas e pelos centristas, que criticaram a falta de apoios para o setor privado no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
O primeiro-ministro jogou ao ataque logo em resposta às primeiras perguntas do líder da bancada laranja, Adão Silva (em substituição de Rui Rio, que não pôde estar presente devido à morte de um familiar próximo) e a direita quis responder às provocações. Adão Silva criticou o Governo “desgastado, cansado” e sem “mão para reerguer o País”; questionando António Costa sobre a falta de médicos de família, a recuperação da atividade não Covid no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e a “distribuição minoritária [do PRR] para as empresas e maioritariamente para os serviços do Estado”, numa lógica eleitoralista. E o primeiro-ministro retorquiu com o desemprego no tempo da Troika. Ficou aqui definido o tom do debate. Costa evocava Passos e a direita defendia-o.
Outro argumento constante no debate (este dirigido a um presente) foi o ataque ao ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita. Começou com uma pergunta da deputada do CDS Cecília Meireles, que pediu a Costa para responder de forma direita sobre se tinha ou não conhecimento do despacho enviado pelo ministério de Cabrita à polícia a autorizar os festejos do Sporting, vencedor do Campeonato Nacional.
Costa foi telegráfico e disse: “não. Não conhecia o despacho”. O que não serviu de consolo ao deputado do PSD Carlos Peixoto, que acusou o primeiro-ministro de “colar que nem lapa ao seu Governo” ministros que já não o mereciam ser e “a partir daí todas as trapalhadas são da sua responsabilidade”. Do Chega, André Ventura juntou-se à condenação de Cabrita por este continuar a ter lugar no Executivo, lamentando casos como o da violência em Reguengos de Monsaraz, os festejos do Sporting e lançando um repto a Costa para pedir desculpa aos portugueses “pela vergonha em que está a nação”.
Já Telmo Correia, líder parlamentar do CDS, voltou à carga, mais tarde, para considerar “muito estranho” que Costa não soubesse do despacho – “ou não sabe ou não quis saber”para proteger o ministro “das golas de fumo, do SIRESP, do Zmar, do SEF”.
PRR? “Governo a passar cheque à administração pública”
A maior critica da direita ao Executivo foi sobre a distribuição do dinheiro que vem da União Europeia para usar de acordo com as prioridades do PRR – a “bazuca” dá demasiado ao Estado e menos às empresas, sublinharam os partidos. Para a centrista Cecília Meireles, a imagem adequada é a do “Governo com o livro de cheques na mão a passar cheques à administração pública”, o que considera “uma escolha profundamente errada”.
Adão Silva acusou os socialistas de “virarem as costas ao nosso tecido empresarial”, quando “não falta dinheiro para enterrar na TAP”. Segundo o social democrata, “o Governo português foi o que menos fez” pela economia, permitindo a falência das empresas e a subida da taxa de desemprego.
Também João Cotrim de Figueiredo, deputado único da Iniciativa Liberal – que assumiu o discurso de Costa como uma “autêntica promoção do Governo” – se referiu à ausência de apoio real às empresas, alertando que “o PS não é o campeão do crescimento. É o campeão da estagnação”.