De dois em dois anos a Associação de Oficiais das Forças Armadas faz um inquérito a todos os militares para averiguar como está a confiança nas chefias. Os resultados “são cada vez piores, e a percentagem de oficiais que não reconhece capacidade nos chefes para exercer o direito de tutela já alcança os 96%”, assume o presidente, o tenente-coronel António da Costa Mota. Não resta muita margem para a desconfiança plena, mas o responsável pela associação acredita que esta pode ser atingida com a implementação das alterações à Lei Orgânica de Bases da Organização das Forças Armadas (LOBOFA). A proposta do Governo para tornar mais eficientes as operações, reforçando os poderes do chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA), está a gerar muita contestação e uma grande pressão pública de antigos generais – entre eles, o antigo Presidente da República António Ramalho Eanes – que não acreditam nos benefícios e acusam o poder de querer controlar o setor.
“Os chefes militares já são vistos, há uns anos, mais como embaixadores do poder político nas Forças Armadas do que como representantes dos militares perante o poder político”, continua António da Costa Mota que tem “uma perspetiva muito negativa” sobre este assunto. Não crê que o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, não se tenha apercebido “do perigo que é para a democracia a concentração excessiva de poderes numa só pessoa”. Por isso, diz que “a finalidade só pode ser governamentalizar as Forças Armadas”. “Até vou mais longe e falo em partidarização das Forças Armadas”, acusa o tenente-coronel, que esteve oito anos a trabalhar no ministério e que antevê que “o poder político escolha quem é mais afeto às suas cores partidárias”.