Marcelo Rebelo de Sousa escolheu o salão Nobre dos Paços do Concelho da Câmara Municipal do Porto para falar sobre respeito pela liberdade religiosa, num momento em que “é sedutor dividir para catalogar”. No discurso de encerramento da cerimónia ecuménica, onde estiveram representadas 17 confissões religiosas, o Presidente sublinhou duas palavras: “gratidão e apelo”.
Escolheu a “gratidão” para lembrar que respeitar a Constituição da República Portuguesa também é respeitar a liberdade “de crentes e não crentes” e para agradecer a todas as confissões ali presentes o “contributo, ajudando os excluídos, os mais pobres”. O “apelo” foi ao “diálogo e a convergências” num tempo “em que é tão sedutor dividir, marginalizar sem humanidade”.
“Respeitem a liberdade alheia. Não a queiram limitar, não a queiram condicionar”, pediu Marcelo, durante a cerimónia ecuménica, que, há cinco anos, foi na Mesquita de Lisboa, mas que hoje trazia também uma mensagem sobre a descentralização do poder. “Portugal não é Lisboa”, disse à saída aos jornalistas, explicando que “uma cerimónia sobre a liberdade tinha de ser no Porto, porque esta é uma cidade de afirmação da liberdade em Portugal”.
No dia em que o Presidente da República reeleito tomou posse fez questão de estender os cumprimentos oficiais à Invicta, condensado assim o programa de há cinco anos num só dia. Ao início da tarde, Marcelo Rebelo de Sousa aterrou no aeroporto Francisco Sá Carneiro e foi recebido pelos trabalhadores da Groundforce em protesto.
A agenda frenética não o impediu de fazer uma pausa e se dirigir aos manifestantes para garantir que “o primeiro-ministro se tem empenhado muito, o senhor ministro também, assim como o senhor secretário de Estado” para resolverem o problema do salário em atraso de cerca de 2500 funcionários. Marcelo reconheceu a “situação pessoal” em que estes trabalhadores se encontram e prometeu que os ordenados deverão ser pagos em breve.
Marcelo seguiu para a Câmara Municipal do Porto, onde esteve durante uma hora reunido, à porta fechada, com o autarca Rui Moreira e o ministro dos Negócios Estrangeiro, Augusto Santos Silva, antes da cerimónia ecuménica.
Programa oficial
10:30 – Cerimónia da tomada de posse e juramento na Assembleia da República, perante cerca de cem convidados;
11:30 – Passagem pelo Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, onde o Presidente foi colocar coroas de flores no túmulos de Luís Vaz de Camões e de Vasco da Gama;
12:15 – Chegada ao Palácio de Belém, com guarda de honra junto ao portão principal. Na Sala das Bicas, Marcelo Rebelo de Sousa recebeu a banda das três ordens, símbolo do Presidente da República e grão-mestre das ordens honoríficas portuguesas;
14:30 – Encontro com o autarca do Porto, Rui Moreira, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva;
15:30 – Cerimónia ecuménica com representantes de várias confissões religiosas, no salão Nobre dos Paços do Concelho da Câmara do Porto;
16:30 – Visita ao Centro Cultural Islâmico do Porto.
No Parlamento, a palavra chave foi reconstrução
O discurso de tomada de posse, de manhã, no Parlamento ficou marcado pelos desafios que a pandemia deixa ao País, sem esquecer as desigualdades que já existiam. “Sou o mesmo de há cinco anos, sou o mesmo de ontem. Eleito e reeleito por todos vós, com independência, espirito de proximidades, honestidade, afetos, com convergência e respeito pela diferença e pelo pluralismo”, prometeu Marcelo.
O apelo decisivo foi a uma “estabilidade sem pântano”, numa altura em que será fundamental “reconstruir a vida das pessoas, o emprego, os rendimentos, as empresas, a saúde mental, os laços sociais, as vivências e os sonhos”, segundo Marcelo, que evocou um regresso a 2019, quando não havia pandemia. A recuperação só será possível, ainda de acordo com o Presidente, utilizando de forma “transparente” os fundos europeus, consolidando os mecanismos de apoios sociais. “Só haverá verdadeira recuperação se houver redução da pobreza”, lembrou. Num discurso marcado pelo cariz social, as primeiras pessoas a serem referidas por Marcelo foram os sem-abrigos, uma causa antiga sua, a que acrescentou outras como a dos cuidadores informais, os mais velhos, os jovens, os professores e os profissionais de saúde.
É a primeira vez que um Presidente da República toma posse em Estado de Emergência na história da democracia portuguesa, sendo que a sua primeira tarefa deste segundo mandato deverá ser mesmo a renovação deste estado. Mais uma vez, Marcelo assumiu as responsabilidades pelo descontrolo da pandemia, mostrando-se solidário com os lesados, mas também com o Governo ao não ter deixado de referir que “é parcialmente injusta a recriminação de tudo o que não se antecipou ou resolveu”, porque “nuns casos era possível, noutros nem tanto”.