Em rota de colisão anunciada com a atual direção do CDS-PP, desta vez o antigo vice-presidente do partido Adolfo Mesquita Nunes foi mais longe e num artigo de opinião, publicado no Observador, escreveu que “a crise de sobrevivência que o CDS hoje atravessa não conseguirá ser resolvida com esta direção”. Propõe, então, a realização de um Conselho Nacional extraordinário para convocar eleições antecipadas, se for preciso em formato digital.
Ainda no rescaldo das eleições Presidenciais, Mesquita Nunes fala na “consolidação dos novos partidos à direita” – o Chega, que na pessoa de André Ventura conseguiu 11,9% dos votos, e a Iniciativa Liberal, que teve 3,22% com Tiago Mayan. Em contraste com “a velocidade da erosão do CDS: um partido que não marca a agenda, que não se antecipa, que não passa a mensagem, que não se afirma como alternativa, que não é ouvido nem tido em conta, que parece conformado em caminhar para a irrelevância”, escreveu, garantindo que dentro partido “não há ninguém que pense” que as coisas “estão a correr bem”.
Adolfo Mesquita Nunes admite que a direção de Francisco Rodrigues dos Santos, eleita há um ano, “tem total legitimidade para continuar em funções”. No entanto, se isto acontecer, diz, “será demasiado tarde para reagir, com os partidos emergentes a consolidar-se cheios de entusiamo”.
“Portanto, o CDS tem de tomar uma decisão: quer mudar de caminho enquanto é tempo, e portanto mudar de direção; ou quer seguir o caminho até aqui, mantendo tudo como está? As duas opções são legítimas. Mas quem preferir tardar um ano estará a dizer aos portugueses que o CDS não atravessa problema de maior, que o risco não é gravíssimo, que estamos num caminho aceitável, que esta vertigem para a irrelevância é um invenção ou uma ilusão”, escreveu o centrista.
Já esta quarta-feira de manhã, em entrevista à rádio Observador, o atual presidente, Francisco Rodrigues dos Santos, renovou a sua vontade de terminar o mandato de dois anos que começou há um e desafia Adolfo Mesquita Nunes – “um ex-dirigente que de repetente volta a interessar-se pelo partido” – a reunir “as assinaturas necessárias para convocar um conselho nacional”, em vez de o dizer na imprensa.
Apesar de achar que tem condições de continuar, Rodrigues dos Santos acredita que o lugar de presidente do CDS não é seu, “pertence aos militantes” e se estes o decidirem afastar, aceitará bem. “Tenho vontade pessoal para cumprir o meu mandato e não provoco incidentes internos para interromper as lideranças”, acrescentou.
“Não acho que o partido esteja a morrer”, disse ainda. Quanto aos resultados eleitorais, Rodrigues dos Santos referiu só poder ser responsabilizado por dois: o dos Açores (onde o CDS faz parte da solução de Governo) e por estas Presidenciais (em que o partido apoiou Marcelo Rebelo de Sousa e, por isso, também saiu vencedor, segundo o líder centrista).
Questionado sobre se o CDS está disponível para fazer algum acordo com o Chega, o líder do partido declarou que, nas eleições autárquicas, em outubro, não haverá “entendimentos nenhuns”. Mas quanto às legislativas, as dúvidas aumentam: “Temos de falar”, respondeu apenas.