“Apenas o Estado [FSB, GRU, os acrónimos dos serviços de informações civil e militar russos] pode recorrer ao Novitchok. Está para além de qualquer dúvida razoável”, considerou no Twitter Ivan Jdanov.
Em posteriores declarações à rádio Eco de Moscovo, revelou que se trata de uma “substância tóxica militar”.
“Isso demonstra claramente que um ataque desta amplitude foi organizado pelo Estado”, acrescentou o responsável da organização anticorrupção, especializada em investigações sobre a elite política russa e o círculo próximo do Presidente Vladimir Putin.
Em paralelo, diversos deputados russos afirmaram hoje que as conclusões alemãs sobre o recurso a este veneno constituem uma “provocação” antirrussa, e que a Alemanha não respondeu a um pedido de acesso às informações e conclusões que confirmam envenenamento, solicitado pelo procurador-geral da Rússia.
“A declaração do Governo alemão sobre o possível envenenamento de Navalny deve ser obrigatoriamente acompanhada de provas concretas e sólidas”, disse Leonid Slutski, chefe do comité de Assuntos internacionais da Duma (parlamento), citado pela agência Interfax.
Um cientista russo, referenciado pelos media russos como tendo participado na elaboração do Novitchok na época soviética, também excluiu que Navalny tenha sido envenenado por esta substância, que lhe provocaria a morte.
“Se assim fosse, estaria a caminho de repousar no cemitério, é tudo”, assinalou Leonid Rink, segundo a agência noticiosa pública Ria Novosti.
Uma fonte das forças de segurança citada pela agência noticiosa estatal TASS reafirmou por seu turno que “os resultados efetuados [na Rússia] por diversos peritos e no âmbito das investigações preliminares não revelaram qualquer substância venenosa ou toxina no organismo e nas reações de Navalny”.
O Kremlin considerou por diversas vezes que não se poderia admitir um envenenamento enquanto não fosse identificada uma substância, e recusou até ao momento iniciar um inquérito criminal, limitando-se a investigações “preliminares”.
O Governo alemão avançou hoje que testes realizados a amostras retiradas ao opositor russo Alexei Navalny, internado em Berlim, provam sem equívoco a presença de Novichok, um agente neurotóxico da era soviética.
Num comunicado, o porta-voz do executivo alemão, Steffen Seibert, precisou que testes realizados num laboratório militar alemão especializado em farmacologia e toxicologia mostraram evidências da presença de “um agente químico nervoso do grupo Novichok” no organismo de Navalny.
Principal opositor do Presidente russo, Alexei Navalny, 44 anos, está internado, em coma, desde 20 de agosto.
O político sentiu-se mal durante um voo de regresso a Moscovo, após uma deslocação à Sibéria, e segundo os seus apoiantes foi envenenado pouco antes do embarque.
Foi primeiro internado num hospital de Omsk, na Sibéria, tendo sido transferido, posteriormente, para o hospital universitário Charité, em Berlim.
O hospital pediu a colaboração do laboratório militar de farmacologia e toxicologia de Munique (Baviera), no qual trabalham os maiores especialistas alemães em substâncias tóxicas e agentes químicos.
O hospital Charité de Berlim informou hoje que Navalny permanece em estado grave, apesar de estarem a diminuir os sintomas de envenenamento. O opositor russo foi admitido no estabelecimento em 22 de agosto, e ainda permanece nos cuidados intensivos, e ligado a um ventilador.
Os responsáveis do hospital admitiram ainda uma “longa doença”, e não excluíram consequências físicas a longo prazo motivadas pelo alegado envenenamento.
PCR (SCA) // ANP