“Sabemos que em África, as capacidades são limitadas, mas África também demonstra a importância da base popular e da comunidade. A resiliência comunitária é chave, porque ao nível da comunidade, conhecem melhor as soluções, as soluções locais”, disse Maimunah Mohd Sharif, questionada pela Lusa sobre medidas recomendadas hoje pela ONU para áreas urbanas em todo o mundo.
Segundo a ONU, a resposta à pandemia requer cooperação máxima entre todos os governos e autoridades locais para garantir a oferta de serviços essenciais, condições socioeconómicas e resiliência para o futuro.
Em explicações à imprensa, a diretora da ONU-Habitat e subsecretária-geral da ONU acrescentou que a “solidariedade global e setor público têm de trabalhar juntos”, tal como as organizações internacionais se devem envolver em projetos com a juventude, populações locais e comunidades.
O documento publicado hoje pela ONU descreve que “existe uma clara necessidade de se focar em abordagens descentralizadas à covid-19 e garantir capacidade fiscal local suficiente para sustentar serviços públicos críticos, acessíveis e económicos”.
Maimunah Mohd Sharif mostrou-se satisfeita com a implementação de medidas recomendadas pela ONU-Habitat em várias cidades africanas, como por exemplo em Nairobi, capital do Quénia.
Segundo a responsável, uma recomendação dada pela ONU para criação de ciclovias foi discutida “no comité territorial pelo governo queniano”, depois de ter sido apreciada em consulta popular.
“As pessoas apreciam [as medidas] e querem mais”, notando-se já o aumento das pessoas que se deslocam a pé e de bicicletas em Nairobi, numa tentativa de diminuição da poluição e da redução da dependência do transporte pública, disse a responsável.
“Vamos ao ministério, formamos um comité e explicamos os benefícios. Eles acreditam e confiam em nós. Agora, como a recomendação foi tornada numa campanha da cidade, até cria empregos para a juventude”, explicou Maimunah Mohd Sharif.
A diretora executiva defendeu que os projetos comunitários locais são pequenos exemplos que, ao mostrarem a credibilidade das medidas adotadas, podem ser ampliados a uma escala maior.
O sumário de políticas publicado hoje, intitulado “Covid-19 num mundo urbano”, dá conta de políticas a serem seguidas nas áreas urbanas de todo o mundo.
As medidas recomendadas são divididas em três áreas principais: desigualdades e défices de desenvolvimento; capacidades dos governos locais; e recuperação económica resiliente, inclusiva e ecológica.
Para a ONU, a “crise mundial da habitação urbana piorou a pandemia” de covid-19, com cerca de 1,8 mil milhões de pessoas a viverem em espaços superlotados, inadequados, em condições de favela ou sem-abrigo.
Os dados da ONU constatam que cerca de 24% da população mundial vive em favelas e assentamentos informais.
“Os milhões de habitantes de favelas do mundo enfrentam riscos mais agudos, especialmente na África Subsariana e no Leste e Sudeste da Ásia, que representam [respetivamente] 23% e 36% da população urbana global que vive em favelas”, alerta a organização.
“Os investimentos públicos em larga escala, a médio e longo prazo, em habitação acessível e económica e para modernização de favelas” são essenciais, destaca o documento.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 650 mil mortos e infetou mais de 16,3 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em África, há 17.767 mortos confirmados em mais de 848 mil infetados em 54 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia naquele continente.
Entre os países africanos que têm o português como língua oficial, a Guiné Equatorial lidera em número de infeções e de mortos (2.350 casos e 51 mortos), seguida de Cabo Verde (2.328 casos e 22 mortos), Guiné-Bissau (1.981 casos e 26 mortos), Moçambique (1.701 casos e 11 mortos), Angola (950 infetados e 41 mortos) e São Tomé e Príncipe (749 casos e 14 mortos).
EYL // PJA